A Lotus Cars Limited foi fundada em 1948 pelo genial engenheiro mecânico Colin Chapman, que nesse ano construiu o seu primeiro carro de corrida. Foi também, em 1958, o fundador e chefe da bem sucedida equipa Team Lotus até 1982, ano da sua misteriosa morte. Tanto na Fórmula 1 como na conceção dos modelos de estrada, Colin Chapman sempre defendeu e aplicou de facto a otimização da performance dos bólides de estrada e de corrida pela via do baixo peso, da simplicidade das formas e da não inclusão de equipamento supérfluo, em vez do aumento de performance dos motores, graças a invenções técnicas da autoria do próprio. A certa altura, Chapman cita a frase do famoso arquiteto proto-moderno Loius Sullivan: “A forma segue a função”. Como resultado da sua filosofia, o Team Lotus foi responsável, entre 1962 e 1978, pela conquista de oito títulos do Campeonato do Mundo de Construtores de Fórmula 1, de seis títulos do Campeonato do Mundo de Pilotos de Fórmula 1 e ainda por uma vitória na famosa corrida oval Indianapolis 500 nos Estados Unidos.
No departamento dos carros de estrada, a aventura começou com o primogénito Lotus Mark I (1948), gerando mais tarde os famosos modelos Seven, Eleven, Elite, Elan, Europa, Eclat, Esprit, Elise, Exige e Evora, entre outros. Convém também não esquecer o especial Lotus Eleven 430, sobre o qual já escrevi neste blogue. Alguns destes modelos tiveram várias evoluções que perduraram até aos dias de hoje, como é o caso do Elise, do Exige e do Evora. Em toda a sua história, nunca a Lotus fabricou os seus próprios motores, mas encomendou o seu fabrico a outras marcas. Ajudou ainda a conceber modelos de outras marcas, entre as quais o famoso DMC DeLorean. Em todo o caso, o sucesso dos seus modelos na estrada foi sempre marcante, sobretudo graças à eficácia de comportamento e aos níveis de emoção proporcionados aquando da condução em estrada e em pista.
Desde a morte de Colin Chapman, a Lotus Cars passou por vários donos, entre as quais a malaia Proton, que deteve maioritariamente a marca entre 1996 e 2017, ano em que passou para as mãos de um consórcio composto pelo dominante grupo chinês Geely (51% de ações) e pela malaia Etika Automotive, que fica com os restantes 49% de ações. Desde a sua fundação que a Lotus mantém a sua base operacional na aldeia inglesa de Hethel (Norfolk, Reino Unido). A atual gama é composta pelas mais recentes evoluções dos modelos Elise, Exige e Evora (incluindo versões especiais Final Edition), modelos que serão muito brevemente substituídos de uma assentada por um modelo único, de nome Emira, que será oficialmente o último modelo de combustão interna construído pela marca, com revelação marcada para 6 de julho do presente ano de 2021.
Desde 2008 (aquando do lançamento do Evora) que a Lotus não lançava um único modelo inteiramente novo. É então que, a 16 de abril de 2019 é revelado o primeiro teaser que vislumbra um pouco daquele que será o primeiro hipercarro britânico totalmente elétrico, com o nome de código “Type 130”. Pouco tempo depois, a 7 de julho de 2019 é revelado o nome do futuro hipercarro: Evija. Dias depois, a 16 de julho de 2019, a Lotus apresenta em Londres o Evija em formato de protótipo, numa evento especial. Será que, com os futuros modelos, a Lotus voltará a ser uma marca influente como fora no passado?
FACTOS PRELIMINARES SOBRE O NOVO LOTUS EVIJA
O novo Lotus Evija é de facto o primeiro hipercarro 100% elétrico a ser fabricado no Reino Unido. É também o primeiro hipercarro a apresentar uma potência máxima de 2000 cv. De facto marca o início de uma nova era na marca de carros puramente desportivos e leves, pois para além de ser o primeiro 100% elétrico da marca, é de facto o modelo mais pesado que alguma vez a firma de Hethel fez, apresentando um peso de 1680 kg. Tal valor compreende-se sobretudo devido ao peso das baterias que alimentam o sistema elétrico, contudo se compararmos este valor ao um certo rival – o Rimac C_Two, que pesa 1950 kg – acaba por ser um valor que respeita os pergaminhos da marca fundada pelo carismático Colin Chapman, sobretudo graças ao ultra-resistente monocoque fabricado inteiramente numa única peça em fibra de carbono. Também é a primeira vez que a Lotus entra no segmento restrito dos hipercarros ao qual pertence, por exemplo, o Bugatti Chiron. O Evija será fabricado inteiramente à mão numa série muito limitada de 130 exemplares (em alusão ao nome de código do modelo “Type 130”) justamente onde foram fabricados todos os restantes modelos da marca. Outro facto relevante: a bateria colocada em posição central-traseira ecoa o famoso layout dos carros desportivos com motor central da marca.
O Evija é também o primeiro modelo de estrada a apresentar uma tecnologia de iluminação por feixes principais e médios a laser. Sendo este um modelo mais exclusivo que todos os anteriores modelos Lotus, haverá lugar a uma personalização abrangente de acordo com o gosto do cliente, bem como um programa de experiências de condução para os futuros proprietários. Apesar de se tratar de um hipercarro de elevada performance, o seu alcance em ciclo combinado WLTP é de uns assinaláveis 345 km. Prevê-se que a aceleração de 0 a 100 km/h seja de menos de três segundos (realisticamente pode até ser de menos de dois segundos), enquanto a velocidade de ponta será acima de 320 km/h. O binário entre às quatro rodas é de uns brutais 1700 Nm instantâneos.
Será que o Evija é aquele tal modelo que cimentará a posição do Reino Unido como líder mundial em fabricação de automóveis de alta performance com tecnologia avançada? Talvez seja um exagero afirmar que sim, mas o facto é que este modelo utiliza técnicas aerodinâmicas pouco vulgares, tais como os “tubos de Venturi” que começam nas laterais do veículo e terminam na secção traseira. Já explicarei isso mais tarde…

Aquando da revelação do modelo, o CEO da Lotus Cars afirmou: “O Lotus Evija é um carro como nenhum outro. Isso irá restabelecer a nossa marca nos corações e mentes dos fãs de carros desportivos e no automobilismo global. Também abrirá o caminho para mais modelos visionários.”. Nos próximos parágrafos vou dissecar sobre todos os detalhes técnicos do novo hipercarro britânico de uma marca cujo novo lema é, no fundo, o de sempre: “For The Drivers”.
O NOVO LOTUS EVIJA AO DETALHE
O novo modelo da Lotus recebeu primeiro o nome de código “Type 130”, sendo mais tarde batizado de Evija (pronuncia-se “E-vi-ya”). O nome é uma derivação do termo hebraico “Eva” e significa “o primeiro a existir” ou “o vivente”. Simboliza o início de uma nova era para a marca, ao mesmo tempo que materializa todo um concentrado de tecnologia que outrora a Lotus nunca reunira nos seus modelos anteriores, marcando um novo passo à frente no que respeita ao pioneirismo e à inovação automóvel. O facto de a Lotus estar integrada no grupo Geely, que também inclui por exemplo as marcas Volvo e Polestar, dá-lhe os meios técnicos e financeiros para construir uma gama mais ampla de modelos desportivos. O nome tem a particularidade de poder ser lido ao contrário: “Alive”, que simboliza o facto de a Lotus mostrar que está mais viva do que nunca!

O que mais salta à vista no Evija é o seu exterior. De todos os ângulos, a carroçaria inteiramente constituída de carbono é esticada, aparentando ser encolhida sobre os componentes mecânicos. Agachada no chão, com uma altura ao chão de apenas 105 mm, as ancas pronunciadamente musculosas envolvem a cabine em forma de lágrima que afunda entre eles. Inspirando-se na indústria aeronáutica, o exterior é uma mistura de formas fluidas e linhas nítidas em perfeita proporção. Isso é claramente ilustrado pela borda de ataque suavemente curva, mas afiada, do capô, que lembra tantos carros clássicos de corrida e de estrada da Lotus. A linguagem superficial é também inspirada na natureza. Sobre este ponto, Russell Carr, Diretor de Design da Lotus Cars, comentou: “Durante a fase inicial do design do modelo, passámos muitas horas a estudar imagens de formas geológicas, nomeadamente rochas que foram esculpidas pela natureza ao longo dos séculos. Acreditamos ter capturado essas linhas lindas, intrigantes e elementares dentro do Evija.”.

Colin Chapman era apologista da ideia de que cada componente deve servir para vários propósitos. Refletindo tal filosofia, o design exterior é também eficiente em todos os níveis. O exemplo mais óbvio e, também, o mais dramático do exterior, é o túnel de Venturi que perfura cada quarto traseiro. Os dois túneis de Venturi otimizam o fluxo de ar, direcionando-o através da carroçaria, sendo inspirados nos carros de corrida que fizeram história em Le Mans. Além de criar uma presença marcante e distintiva dos demais hipercarros já fabricados, este conceito de design – mais vulgarmente conhecido como “porosidade” – auxilia no fornecimento de fluxo de ar de alta energia para a parte traseira do carro. Isso, por sua vez, neutraliza a baixa pressão atrás do carro para reduzir o arrasto. Além disso, o efeito Venturi no interior dos túneis puxa o ar pelas venezianas do arco das rodas traseiras, mantendo a qualidade do ar no difusor. Quando vistos da parte traseira do carro, cada túnel é delimitado por um LED vermelho para criar uma assinatura luminosa em estilo de “fita” impressionante. O resultado é um efeito visual semelhante aos pós-combustores de um caça a jato, especialemente quando visto à noite. Como detalhe extra, existe um LED escondido dentro de cada túnel que ilumina o seu interior. Os indicadores direcionais são incorporados nos cantos da “fita”, enquanto que a luz de marcha-atrás é fornecida pelo “T” da inscrição “LOTUS” que se encontra acima da aba integrada de acesso ao sistema plug in de carregamento da bateria.

Outra característica importante do sofisticado sistema aerodinâmico do Evija é o splitter dianteiro biplano ou, se preferirem, o duplo splitter plano. Projetado em secções, a área central maior fornece ar para refrigerar a bateria – montada em posição central-traseira logo atrás dos assentos – enquanto o ar canalizado através das duas secções externas menores refrigeram o eixo elétrico dianteiro. Os fãs da marca podem notar uma menção honrosa ao icónico modelo de Fórmula 1, o Type 72, com a sua secção quadrada e duas asas laterais.

O Evija é o primeiro carro de estrada da Lotus a apresentar um chassis totalmente em fibra de carbono. Moldado como uma peça única que confere excecionais níveis de resistência, rigidez e segurança, todo o comprimento da parte inferior é esculpido para otimizar a força descendente, incluindo para tal um difusor de ar integrado que se estende de debaixo dos pilares B para a parte traseira. A aerodinâmica ativa é integrada sob forma de um spoiler traseiro, que se eleva da sua posição de descando rente à zona superior da carroçaria, contendo ainda um sistema de redução de arrasto (DRS) à moda da atual Fórmula 1. Ambos os sistemas são ativados automaticamente no modo de condução Track, podem ainda ser ativados manualmente noutros modos de condução.

A ausência de espelhos retrovisores tradicionais contribui para reduzir o arrasto aerodinâmico. Em vez dos convencionais espelhos, foram integradas câmaras na estrutura das asas dianteiras que são ativadas eletronicamente logo no momento em que o carro é destravado, enquanto que outra câmara embutida no teto fornece uma visão central. As imagens são exibidas em três ecrãs internos.

Com uma potência máxima cifrada em 2000 cv e um binário instantâneo de 1700 Nm, o Lotus Evija será, oficialmente, o carro de estrada mais potente do mundo. Para suportar tamanho poder, a Lotus estabeleceu uma joint venture com a Williams Advanced Engineering (WAE) para uma estreita colaboração em tecnologias de propulsão avançadas. Em resultado disso, a WAE concebeu, desenvolveu e forneceu uma bateria de iões de lítio de 70 kWh com elevada capacidade de produção de energia – 2000 kW – bem como um sofisticado sistema de gestão da mesma. A WAE foi mesmo premiada com o prémio Queen’s Award for Enterprise em 2018 graças ao facto de traduzir a sua experiência em carros de corrida elétricos em tecnologia presente em carros de estrada; foi a mesma firma que forneceu as baterias de iões de lítio para os carros de corrida da Fórmula E nas primeiras temporadas desta competição.
A bateria é montada em posição central-traseira, logo atrás do cockpit, e a sua tampa é visível através do vidro do óculo traseiro. Tal posicionamento da bateria oferece vantagens significativas em termos de estilo, aerodinâmica, embalagem, distribuição de peso, conforto dos passageiros e controlo dinâmico. A bateria oferece também o indispensável suporte para serviços e manutenção rápidos e convenientes. Além disso, a configuração foi projetada para que, no futuro, baterias alternativas – para otimizar o desempenho do hipercarro em pista – possam ser facilmente instaladas.
A energia é fornecida a partir da bateria para quatro motores elétricos de alta densidade – um motor por roda – controlados de forma independente, que apresentam inversores de carboneto de silício integrados e uma transmissão epicicloidal em cada eixo do sistema de propulsão com transmissão de potência às quatro rodas. Os motores e os inversores são fornecidos pela Integral Powertrain Ltd; ou seja, mais uma vez a Lotus se recusou a fabricar o seu próprio motor. Cada um dos motores elétricos produz 500 cv. Existem quatro caixas de engrenagens planetárias fixadas por engrenagens helicoidais excecionalmente compactas, extremanete leves e altamente eficientes, que transferem energia para cada eixo de transmissão, medindo apenas 100 mm de profundidade. Cada caixa de engrenagens está associada ao seu motor elétrico compondo uma unidade de acionamento elétrico cilíndrico (EDU). Esta foi a melhor solução de engenharia mais eficiente para distribuir tanta potência com precisão.
O Evija está dotado de um sistema de vectorização de binário, que está distribuido pelas quatro rodas e oferece níveis de dinâmica e agilidade excecionais na estrada. Este sistema, totalmente automático e autoajustável, pode distribuir instantaneamente a potência para qualquer combinação de duas, três ou quatro rodas numa fração de segundo. No modo Track, a capacidade de adicionar mais potência às rodas individuais permite que o raio das curvas seja reduzido, diminuindo potencialmente os tempos por volta. O carro está ainda equipado com o sistema de controlo de estabilidade (ESP) para garantia de segurança em todas as condições da estrada, com maior aderência fornecida pelo sistema de tração às quatro rodas. Como em qualquer modelo Lotus, também aqui está presente a sensação de pureza da direção, garantida por meio de um sistema eletro-hidráulico.

O carro foi construído num chassis monobloco de peça única constituído de fibra de carbono inspirado no desporto automóvel. É fornecido pela CPC, a líder mundial em tecnologia de compostos com sede em Modena, Itália. Construído com várias camadas de carbono, o processo de fabrico é idêntico ao de um chassis de Fórmula 1 e garante a plataforma mais leve, mais rígida, mais segura e tecnicamente mais avançada alguma vez presente num Lotus de estrada. O peso total do tudo monocoque é de apenas 129 kg. Este chassis, juntamente com uma engenharia inovadora e uma arrumação inteligente de todos os elementos do sistema de locomoção do Evija, contribuiu para que o peso total do bólide, de apenas 1680 kg, seja o mais baixo na classe dos hipercarros.

Agora vamos aos detalhes sobre prestações. Já foi referido anteriormente que o novo Lotus Evija acelera de 0 a 100 km/h em menos de três segundos e a velocidade máxima é superior a 320 km/h. Mas outros dados importantes: acelera de 0 a 300 km/h em menos de nove segundos, valor insuperável por qualquer outro modelo de hipercarro; acelera de 100 a 200 km/h em menos de três segundos; acelera ainda de 200 a 300 km/h em menos de quatro segundos.
A energia também pode ser fornecida por um período sustentado. A aerodinâmica avançada do carro e o pacote de refrigeração com quatro radiadores mantêm a bateria numa temperatura ideal. Quer isto dizer que no modo Track o carro pode ser pilotado sem redução de potência por pelo menos sete minutos. Quer dizer também que a bateria, os motores elétricos e o sistema de transmissão trabalham com um elevadíssimo nível de eficiência, cifrado em 98%. O que diz bem do modo como a categoria de carros elétricos eleva a engenharia automóvel para níveis inimagináveis há uma década atrás; como prova disso e como parte do processo de desenvolvimento e validação, a Lotus e a Williams Advanced Engineering investiram milhares de horas em testes virtuais e análises digitais, o que garantiu que o carro pudesse atingir os seus objetivos e exceder as expetativas dos futuros proprietários. Como em qualquer carro elétrico, o Evija será ultrassilencioso em baixas velocidades, pelo que as normas vigentes exigem que o carro emita um som criado digitalmente – transmitido por um altifalante frontal – que alertará os pedrestes sobre a sua presença.

Para além de ser o hipercarro mais potente do mundo, também possui o sistema de carregamento de bateria mais rápido do mundo, sendo que graças à parceria com a Williams Advanced Engineering a bateria tem capacidade para carregamentos de 800 kW. De momento não existem unidades de carregamento com este nível de potência mas, quando isso acontecer, será possível carregar totalmente a bateria em apenas nove minutos. Por enquanto, usando a tecnologia de carregamento existente (potência máxima de 350 kW), o tempo de carga do Evija será de 12 minutos a 80% e de 18 minutos a 100%. O alcance do carro é, como já foi referido, de 345 km em ciclo combinado WLTP. A tomada de carregamento, de tipo CCS2, está escondida atrás de uma aba ventilada na parte traseira do carro. No mesmo local está uma pequena placa onde está impressa a frase “Hand built in Britain by LOTUS”, lembrando os futuros proprietários da essência britânica do Evija.
O interior deste novo Lotus é tão dramático quanto o exterior. Inspirado no típico e sofisticado ambiente de um carro de corridas, a característica dominante do cockpit é o painel de “asa flutuante”, que pode ser visto de fora através do para-brisas. O design também reflete a porosidade do exterior. “A forma é inspirada nos protótipos de carros de corrida da firma fabricados entre o final dos anos 50 e início dos anos 60”, explica Russell Carr, Diretor de Design da Lotus Cars. “O carro tem uma beleza e uma elegância e representa uma abordagem típica da Lótus por executa várias funções. Abriga o painel de instrumentos e dutos de ar, sendo também um suporte estrutural integral. Isso reforça a regra de ‘ferro fundido’ de Colin Chapman de que nenhum componente do Lotus vem de graça.”.
O acesso ao cockpit é feito pelas duas portas diédricas. Sem qualquer manípulo a fim de preservar o exterior esculpido, as portas são operadas por meio de um chaveiro. É a primeira vez que a Lotus utiliza este tipo de porta e, embora criem um momento teatral, também oferecem o máximo espaço possível para entrar e sair.
Tal como esperado, foi prestada uma atenção excecional aos detalhes no interior. Por exemplo, as superfícies de fibra de carbono visíveis aumentam a sensação de leveza, ao mesmo tempo que uma fina faixa de metal – gravada com as palavras “For The Drivers” – corre centralmente através da placa de ambos os assentos. Existe um interruptor na consola do teto que fecha as portas, cuja localização auxilia no layout minimalista do painel de controlo principal e evita que o movimento das portas seja ativado acidentalmente. Esta solução é inspirada na consola do teto do Lotus Esprit Turbo que foi fabricado no final dos anos setenta e no início dos anos oitenta. Quem é fã deste modelo vai certamente adorar esta conexão. O cockpit atinge o equilíbrio perfeito entre a funcionalidade precisa de um carro de corrida e o conforto de um carro de estrada. Por outro lado, a posição de condução é totalmente ajustável para acomodar todo o tipo de condutor. Os elegantes assentos em fibra de carbono são aparados à mão com almofadas com acabamento em tecido espesso Alcantara estão equipados com ajuste manual para a frente e para trás, além de um sistema elétrico complementar. A coluna de direção é manualmente ajustável para inclinação e alcance. Os cintos de segurança de três pontos são fornecidos de série, com arneses de quatro pontos como opção. Construídas na carroçaria, perto do ponto do quadril dos ocupantes, encontram-se duas áreas de armazenamento personalizadas.
O design do volante, semelhante ao encontrado num carro LMP ou num Fórmula 1, reforça o carácter ultra-desportivo do Evija. O acabamento do anel externo é de série em Alcantara, com couro disponível como opção. Os botões estão agrupados de modo intuitivo e controlam as funções, incluindo o uso do telefone, o cruise control e o comando de DRS. Na base do cubo do volante está montado centralmente o botão giratório dos modos de condução, de cor vermelha. Existem cinco modos de condução – Range, City, Tour, Sport e Track – com vários recursos de desempenho ativados ou desativados, dependendo do modo que for selecionado.
À frente do volante encontra-se um mostrador digital de alta definição, que fornece ao condutor informações importantes tais como o modo de condução ativo, o nível de carga da bateria e a autonomia restante. É o único mostrador digital existente, onde todas as informações necessárias são aí mostradas. O ecrã exibe apenas as funções essenciais, com a informações que aparecem conforme necessário quando o botão apropriado é pressionado e desaparecem quando não mais são necessárias.
Existem outros controlos que estão localizados na consola central flutuante – com um estilo de “pista de esqui” – que possui botões táteis sensíveis ao toque. Cada um deles está integrado em reentrâncias hexagonais para melhor ajudar a guiar os dedos do condutor. À medida que a luz atinge a superfície, esta cria um efeito visual quase orgânico. O condutor pode também interagir intuitivamente com a tecnologia do carro por meio de um botão rotativo de controlo. O desenho dos botões em forma de colmeia é replicado nas hastes indicadoras e na superfície dos pedais de alumínio.
O cockpit do Evija foi deliberadamente desenhado para que os passageiros sintam que estão em sintonia com o carro. A este propósito, Russell Carr afirma mesmo: “No centro das atenções de qualquer Lotus é que o condutor está sempre em sincronização com o carro e quase se sente como se estivess a usá-lo. Olhando por trás do volante, é um momento maravilhosamente emocional ser capaz de ver a carroçaria do lado de fora, tanto na frente quanto atrás de si. Isso é algo que esperamos aprimorar nos futuros modelos da Lotus.”.
O controlo da temperatura e o sistema de infoentretenimento premium são equipamento de série. Os proprietários podem perfeitamente emparelhar os seus smartphones via Apple CarPlay e Android Auto, acedendo a faixas de música e software de navegação.

A suspensão do Evija, derivada do desporto automóvel, apresenta três amortecedores de válvula de carretel adaptativos para cada eixo, sendo calibrada para fornecer a combinação ideal entre o desempenho extremo na pista e o conforto na estrada. Dois deles são amortecedores de canto com e o terceiro está no centro para controlar o movimento. Todos os amortecedores estão montados dentro da carroçaria a fim de otimizar o desempenho aerodinâmico e são fabricados pela Multimatic, especialista no desenvolvimento de tecnologia de suspensão de alto desempenho para aplicações para estrada, off road e desporto automóvel.
As rodas de magnésio conferem níveis ideais de leveza e resistência, cujo tamanho é de 20 e 21 polegadas, respetivamente, no eixo da frente e no eixo de trás. São calçadas com pneus Pirelli Trofeo R, desenvolvidos especificamente para atingir o máximo desempenho. Para lidar com colossal desempenho, o carro está equipado com um sistema de travões de alumínio forjado da AP Racing, com discos carbocerâmicos nos dois eixos.

O Lotus Evija é o primeiro carro de estrada no mundo a apresentar luzes laser para feixes principais e médios. Produzidos pela OSRAM Continental, os módulos de iluminação são muito compactos e proporcionam uma vista deslumbrante da estrada ou da pista que esteja à frente. Os faróis verticais incrivelmente finos fornecem o equilíbrio perfeito entre a beleza cristalina e um desenho altamente técnico. Dentro das lentes, existem elementos únicos em forma de asa forma as luzes diurnas e os indicadores de direção.

O Evija é o primeiro Lotus equipado com um sistema completo de infoentretenimento digital conectado que beneficiará de atualizações de software remotas. Um poderoso modem integrado permite a comunicação com a nuvem, sendo que o condutor pode interagir com os dados por via de uma aplicação de smartphone da Lotus. A aplicação permitirá que os condutores monitorizem o seu Evija de qualquer parte do mundo, por exemplo, para verificar o estado da carga da bateria e a autonomia. Também suportará o uso remoto do sistema de ar condicionado e para aquecer ou arrefecer o cockpit antes da próxima viagem. O sistema de infoentretenimento inclui ainda um cronógrafo que permite ao condutor registar os seus tempos por volta numa pista. A conexão com a nuvem significa que é possível o condutor ver o desempenho enquanto está na pista e recordar sessões anteriores por meio desta aplicação.

A Lotus irá ofececer aos futuros proprietários do Evija um nível incomparável de personalização, permitindo que eles especifiquem o carro exatamente como desejam. Isto inclui a possibilidade de selecionar acabamentos de pintura, acabamentos internos e detalhes exclusivos. Existirão também crachás ao estilo da marchetaria à medida do cliente. A Lotus desenvolveu mesmo a capacidade de embutir elementos de metal diretamente na carroçaria fabricada em fibra de carbono, para que o emblema fique completamente alinhado com a carroçaria. Atualmente, o Evija carrega um emblema parcial da Union Flag no pilar C, que simboliza o facto de se trata de um hipercarro de construção britânica. No entanto, pode ser outra bandeira, um brasão de família ou um logótipo pessoal.
A Lotus também está a desenvolver um programa abrangente de atividades experienciais à medida para os futuros proprietários do Evija. Isto incluirá dias de pista VIP e outras atividades de alto desempenho em pista.
Um aspeto particularmente delicioso presente neste novo modelo é o facto de poder reproduzir digitalmente o som de motor V8 do clássico monolugar de Fórmula 1 Type 49 da Lotus, que levou Graham Hill a conquistar o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 em 1968. Para tal, a Lotus contou com os préstimos de um sonante produtor de música britânico, chamado Patrick Patrikios, que trabalhou para diversos artistas tais como a Sia e a Britney Spears, entre outros. Ele que é um forte fã da marca e possui um Lotus Evora.
CONCLUSÕES FINAIS
Após uma importante fase de desenvolvimento do modelo, já se sabe que a versão final do modelo começará a ser produzida à mão ainda em 2021, numa edição – já se sabe – muito limitada de apenas 130 unidades. O preço? Uns astronómicos 2,1 milhões de euros. Em termos de aceleração de 0 a 100 km/h e de velocidade máxima, poderá ser surpreendente o facto de os valores serem substancialmente menores do que os valores do Rimac C_Two, que atinge 412 Km/h de velocidade máxima e acelera de 0 a 100 km/h em 1,85 segundos, apesar de a potência máxima ser de “apenas” 1914 cv? Será que a Lotus está a esconder o jogo? Será por causa do menor binário do sistema de locomoção (1700 Nm contra 2300 Nm do C_Two)? Será que são os preciosismos aerodinâmicos do Evija que prejudicam a sua velocidade máxima? Será que a Lotus quis mesmo priveligiar o comportamento dinâmico em pista em detrimento da velocidade de ponta?…
O reduzido alcance do Evija não lhe permite fazer viagens longas, até porque o seu conceito é mais indicado para puro divertimento, seja em estrada, seja em pista. Por outro lado, o Evija é um enorme salto tecnológico para a Lotus e o culminar de uma série de inovações tecnológicas começaram em 1957 com o modelo Type 14 (Elite) – que incorporou a primeira estrutura monocoque do mundo – passando ainda pela introdução do efeito de solo num carro de Fórmula 1 seu em 1977 e pela construção de um carro de Fórmula 1 com carroçaria totalmente em fibra de carbono (em 1981).
Jeremy Clarkson, antigo apresentador do famoso programa da BBC “Top Gear”, não teceu propriamente as melhores críticas ao novo Evija. Mas… Quem disse que Colin Chapman não desejaria um hipercarro elétrico?
Longa vida à Lotus!