Vinte e nove de fevereiro de 2020. O dia depois de 28 de fevereiro que apenas surge do buraco de quatro em quatro anos. Quis a firma Filinto Mota (e muito bem), na qualidade de concessionário autorizado da marca Mitsubishi Motors na Maia, organizar um evento especial de lançamento da nova geração da popular pick up desportiva L200 Strakar, ao mesmo tempo que oferecia a possibilidade de testar o novo facelift do citadino Space Star. Nesta altura, o perigoso vírus COVID-19 estava prestes a chegar ao nosso país, mas muitas dúvidas ainda subsistiam sobre a dimensão dos casos de infeção que iriam surgir. Felizmente, ainda foi possível fazer um teste duplo a dois modelos bem distintos, mas que ostentam a nova frente denominada “Dynamic Shield” de visibilidade distinta e aspeto bem cromado.
Inscrevi-me neste evento por ser uma belíssima oportunidade de testar pela primeira vez, e em todos os tipos de terreno (sim, todos!), uma das mais sólidas pick up todo o terreno do mercado que ganha uma nova robustez e mais tecnologia de ponta na mais recente geração agora apresentada. Ao mesmo tempo, o mais recente facelift ao pequeno Space Star torna-o num modelo mais apelativo ao nível desportivo, sem contudo mudar a base que lhe permite garantir um preço de aquisição bastante competitivo. A japonesa Mitsubishi está agora interligada à aliança franco-nipónica Renault-Nissan, e isso permitirá ganhar fulgor financeiro que lhe permite renovar a gama e desenvolver novos modelos com forte eletrificação, como aliás já acontece com o primeiro SUV elétrico do mundo, o Outlander PHEV que haverei de testar numa próxima oportunidade, assim passe de vez a crise mundial do COVID-19 que está a assolar (à data em que escrevo este texto).
NOTA: O texto seguinte é a Parte I da rubrica “Mitsubishi Motors em dose dupla”, dedicada ao citadino Space Star.

TESTE AO MITSUBISHI SPACE STAR
O primeiro modelo que testei foi o citadino Space Star, na versão de equipamento Connect Edition equipada a caixa manual de cinco velocidades. É locomovido unicamente com o motor atmosférico 1.2L de três cilindros e quatro válvulas por cilindro (12 cilindros no total), com tecnologia DOHC MIVEC (Sistema Inovador de Comando Eletrónico de Variação de Abertura das Válvulas da Mitsubishi), que lhe permite alcançar uma potência de 80 cv às 6000 rpm, com o binário a acentuar-se nos 106 Nm às 4000 rpm. Perante o facto de se tratar de um modelo criado para ser divertido e acessível, a Mitsubishi não caiu na tentação de impor neste segundo facelift um motor turbo de baixa cilindrada, como fizerem os seus concorrentes; ao invés disso, manteve uma fórmula que lhe tem garantido uma excelente fiabilidade graças combinando a clássica cilindrada 1.2L de injeção multiponto com a arquitetura “três cilindros em linha”, com a diferença de ser promovida uma otimização no campo dos consumos e uma maior progressividade na resposta ao acelerador, tornando o barulho do motor mais agradável sem ser propriamente ruidoso mesmo em altos regimes.
Sinónimo das suas preocupações com o ambiente, o Space Star contém um indicador no painel de instrumentos que acende a menção “ECO” de cada vez que o ritmo de condução for mais moderado, como sinal de que os consumos estão suficientemente baixos, sendo que o consumo médio é de 5,2 litros, o que é mais ou menos consentâneo com a média que o meu Renault Clio II, que tem a mesma cilindrada (distribuída por quatro cilindros) e o mesmo tipo de injeção. Uma boa combinação de fatores, tais como a motorização já referida, o baixo peso (845 kg), o baixo coeficiente aerodinâmico (o “Dynamic Shield” afinal faz qualquer coisinha) e um design mais agressivo permitem ao “pequeno mas espaçoso” uma aceleração de 0 a 100 km/h em 13,5 segundos e uma velocidade máxima de 180 km/h.
O design exterior está de facto mais agressivo, mais marcante, mais atraente e até mais jovial. Isso nota pelos diversos traços aerodinâmicos mais apurados e precisos na hora de redirecionar o ar frontal, podendo inclusive serem montadas saias aerodinâmicas laterais que dão um ar ainda mais aguerrido, à moda japonesa, ao mesmo tempo que o notável spoiler traseiro é de série, assim com as geniais jantes desportivas em liga leve de oito raios. Ao mesmo tempo, o design de base manteve o mesmo nível de compactidade que faz com que o seu raio de viragem seja de apenas 4,6 metros, facilitando por si só as manobras de estacionamento. A frente do carro adaptou-se muito bem à nova filosofia “Dynamic Shield”, a qual consiste num escudo com traços em cromado que cria uma imagem dinâmica e promove uma excelente refrigeração do motor, ao mesmo tempo que promove uma melhor proteção aos peões em caso de atropelamento e também aos ocupantes em caso de colisão. O sistema de iluminação não dispensa de série os faróis de nevoeiro frontais, pese embora ainda não tenha incorporado um sistema de LED’s, podendo contudo optar por um sistema bi-xénon que acaba por ser bastante eficaz ao invés do sistema tradicional montado na unidade que testei. De série, está também equipado um sistema de fecho e abertura de portas que funciona através de sensores localizados nas portas dianteiras e na porta da bagageira, que detetam se a chave inteligente, de pequenas dimensões, está suficientemente próxima das portas para que, apenas clicando num dos sensores, as portas se abram; os espelhos retrovisores são ajustados eletronicamente a partir do banco do condutor (comandos na zona inferior do tablier), sendo também dobráveis a fim de ficarem protegidos contra eventuais danos do exterior.
O interior, onde se nota uma qualidade de montagem acima da média onde os bons materiais reinam, sofreu pequenas melhorias face ao que já era bom na sua base, tornando-se ligeiramente mais espaçoso sobretudo no espaço para as pernas entre os bancos dianteiros e traseiros. O desenho dos bancos, agora com um pequeno toque desportivo, foi otimizado para um maior conforto dos passageiros, apresentando agora uma textura mista agradável de tecido padronizado e de pele sintética, conferindo também uma maior comodidade para os passageiros. Sendo flexíveis, os bancos permitem também uma maior acomodação de carga em caso de necessidade, aquando do transporte de menos pessoas do que a lotação máxima de cinco pessoas. O painel de instrumentos manteve o seu perfil analógico e compacto, mas cujo velocímetro e conta-rotações anexo ganharam maior contraste e uma superfície com padrão carbono, envoltos em molduras cromadas, conferindo ao painel um aspeto mais desportivo. A zona interior das portas é revestida em plástico de qualidade superior, assim como o tablier, que mantém o seu perfil sóbrio, mas cuja zona central ganhou um revestimento especial em “preto-piano”, tal como acontece com as pegas inferiores do volante. Os apoios das portas da frente, onde se encontram os comandos de abertura e fecho dos vidros da frente e de trás, são revestidos de um delicioso padrão carbono. O volante, também com aspeto mais desportivo, onde reina o tal revestimento especial em “preto-piano” e também apontamentos lineares em cromado, contém vários comandos, de toque macio e de fácil acesso para o sistema de áudio e para o sistema de Bluetooth.

É no centro do tablier que se encontra o novo sistema de infoentretenimento MGN, presente de série apenas na versão de equipamento “Connect Edition”, o qual contém todas as aplicações indispensáveis nos tempos de hoje, com conectividade aos smartphones através dos sistemas Android Auto e Apple Car Play por USB ou Bluetooth, e ainda uma entrada para cartões de memória MicroSD; contudo, o MGN tem uma vantagem que a larga maioria dos modelos recentes, mesmo de segmentos superiores, hoje não têm, que é a presença do leitor de CD como parte integrante do sistema de áudio (para mim, que tenho dezenas de CD’s de diversos artistas, este é um ponto claramente a favor); em termos de qualidade de som, este é reforçado graças à presença de quatro altifalantes estrategicamente distribuídos pelo habitáculo.
No capítulo da segurança, a carroçaria Space Star respeita a filosofia RISE da Mitsubishi e está assente numa estrutura protetora forjada em aço de alta resistência, que absorve e dispersa a energia do impacto de qualquer direção, reduzindo ao mesmo tempo o peso do veículo, que se cifra nos 845 kg. De modo a reforçar ainda mais a proteção dos passageiros, este veículo é dotado de um sistema SRS de sete airbags: airbags dianteiros e laterais à frente, de cortina e até mesmo de joelhos (este último, apenas para o condutor). Não falta sequer o sistema de arranque em subidas, tão indispensável em subidas. Os cintos de segurança dianteiros contêm pré-tensores que cingem as correias automaticamente em caso de colisão, protegendo da melhor maneira possível os passageiros da frente. Em situações de perda súbita de aderência, é ativado o sistema de travagem automática e, com isso, a potência do motor é reduzida para um menor esforço de travagem. Para além disso, o sistema de travagem está reforçado com o ABS (Sistema de Travagem Antibloqueio) que evita o bloqueio das quatro rodas e o EBD (Distribuição Eletrónica de Força de Travagem) que distribui a força de travagem pelas quatro rodas de acordo o nível de aderência de cada uma delas. Para controlar a pressão dos pneus, os sensores do TPMS medem a pressão e a temperatura dos pneus, enviando depois os dados correspondentes para uma unidade de comando. Se a pressão for inferior ao recomendado, acende-se uma luz de aviso no ecrã do painel de instrumentos.

Em termos dinâmicos e de performance, o teste mostrou que não é preciso um carro sobejamente potente e volumoso para se ter momentos de pura diversão. O espaço chega muito bem para quatro ou mesmo cinco pessoas, e chega a ser aconchegante. O motor mostrou-se solícito em todas as situações. O conforto de rolamento é notável, mesmo em pisos mais irregulares… e adorna pouco nas curvas, graças a um bom sistema de suspensões (MacPherson à frente, eixo de torção atrás). A maneabilidade, potenciada em parte pela direção com assistência elétrica, é algo de verdadeiramente extraordinário, mesmo tratando-se de um veículo de pequenas dimensões. O conforto a bordo não destoa na hora de passar por pisos irregulares. O barulho do motor, mesmo tratando-se de um “três cilindros”, não faz vibrar o habitáculo e até em determinados regimes acaba por soar agradavelmente, mesmo quando o grau de insonorização é algo excessivo a acaba por retirar alguma emoção face à sonoridade de um motor que tem o pulsar de um relógio suíço, e que tem dado provas de fiabilidade, o que fará com que o custo de manutenção do Space Star previsivelmente mais baixo. Em termos de acelerações e recuperações, a caixa manual de cinco velocidades é curta, de manuseio fácil e bem precisa, um pouco à moda japonesa, colaborando de modo decisivo para que o desempenho dinâmico seja similar ao um segmento superior, daí que a velocidade máxima seja algo surpreendente. É certo que o sistema DOHC aproveita muito bem os regimes altos do motor para extrair toda a potência sem consequências nocivas para a mecânica nem para os consumos, o que é mais um ponto a favor para quem gosta de automóveis atmosféricos de pequenas dimensões que, sendo citadinos, são capazes de devorar qualquer estrada de alcatrão ou em paralelo.
Em suma, e até tendo em conta o preço competitivo de base (12.370 € em fase de campanha), o Mitsubishi Space Star é uma opção muito válida numa era em que cada vez mais se valoriza a componente ecológica. Sobretudo para quem tem um perfil ambientalista mas não gosta de carros de propulsão elétrica, nem de carros com turbo devido a uma maior propensão para avarias deste tipo de motorização. Pessoalmente, e como costumo conduzir um veículo citadino atmosférico com injeção multiponto e que já tem mais cerca de 22 anos (ainda de boa saúde, felizmente!), acho que será uma opção como meu futuro carro, caso decida mesmo comprar um e queira mesmo ter filhos. Assim a conjuntura económica ajude e o COVID-19 se vá embora de vez…
A Parte II da rubrica “Mitsubishi Motors em dose dupla”, dedicada à nova geração da pick up desportiva L200 Strakar, será brevemente publicada (em atualização). Não percas, já a seguir!…