Sete de março de 2020. Um daqueles dias especiais que vão ficar na minha memória, e mesmo na memória daqueles que são petrolheads radicais. No Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel (CEIIA), em Matosinhos, a Caetano Baviera Mini (concessionário oficial MINI do Porto) organizou um evento especial de apresentação da tão aguardada versão elétrica do MINI de 3 portas da terceira geração sob a égide do grupo BMW, o MINI Cooper SE (ou pura e simplesmente MINI Electric). Com direito a test-drive para todos quantos se inscreveram e marcaram presença na festa, e ainda com direito a petiscos deliciosos…
Ainda recentemente me deliciei em testar o Cooper S de três portas, com motor 2.0 Turbo Twin Power de 192 cv e quatro cilindros, graças à singela cortesia da Caetano Baviera Mini (Porto) e na companhia do Product Genius MINI João Queiroz. Logo aí fiquei apaixonado!… Pela excelente qualidade de construção; pelo barulho delicioso do motor que muito faz lembrar o motor de quatro cilindros do Mini clássico; pelo design futurista que persiste (felizmente) em ser uma inspiração do Mini clássico e que confere uma eficácia aerodinâmica boa q.b.; pelo sistema de infoentretenimento “MINI Connected” – integrado no local onde anteriormente residia o velocímetro na anterior geração – que é claramente dos melhores do mercado e que inclusive permite que as portas sejam abertas e fechadas à distância com recurso à aplicação utilizável em smartphone (com rede Wifi ligada); pelo comportamento dinâmico que comprova a tal sensação de “Go-Kart Feeling” que perdura e foi sendo aprimorada desde a primeira geração do ícone original e o torna tão ágil (graças a um excelente chassis e a uma direção assistida muito direta), tal como se tratasse de um go-kart. A esse respeito, lembra-te das duas versões do sucesso de cinema “Italian Job”…;
Mas também pelo modo multifacetado como o modelo em si gere a entrega da sua potência, desde o ecológico modo GREEN até ao modo SPORT, passando pelo modo MID que equilibra prestações desportivas com poupança de combustível – uma necessidade inexistente nas anteriores gerações; e ainda pela excelente caixa automática desportiva DCT de 7 velocidades com dupla embraiagem que pode ser acionada manualmente com recurso às duas patilhas no volante, proporcionando acelerações de 0 a 100 km/h nuns avassaladores 6,7 segundos mesmo em ambiente urbano (apenas não recomendado quando a polícia está por perto). Algo que pode ser ilustrado no seguinte vídeo…
Nesse mesmo dia tive ainda a oportunidade de apreciar ao vivo várias variantes presentes no showroom do concessionário oficial do Campo Alegre (Porto). Entre as quais a versão de cinco portas do MINI Cooper S (com maior distância entre eixos), vestida com a edição especial “MINI 60 Years”, lançada por ocasião da celebração especial dos 60 anos do projeto concebido pelo genial Sir Alec Issigonis.
Para muitos certamente, eu incluído, o MINI é ainda hoje o mais divertido carro de tração dianteira do mundo. E claramente merece essa distinção! Será que no novo MINI Electric o “Go-Kart Feeling” se mantém? Mais: será que o espírito do Cooper S original – transposto para a era BMW – permanece intacto no novo MINI Cooper SE?
O evento começou no auditório do CEIIA, onde foi feita a apresentação de todos os detalhes essenciais e se proporcionou a revelação ao vivo da versão de propulsão elétrica. A primeira impressão ficou marcada desde logo por dois detalhes inconfundíveis: as jantes exclusivas MINI Electric “Corona Spoke 2-Tone” que contém o desenho de uma tomada elétrica tipicamente inglesa rodeada de uma coroa (sendo por isso assimétricas e praticamente fechadas) e a grelha típica da Mini, atravessada com uma dupla linha (em verde fluorescente ou outra cor), quase completamente coberta e, portanto, mais aerodinâmica, onde em lugar de um “S” está colocado o símbolo “E” (de electric) de fundo verde fluorescente. Confesso que, apesar do design exclusivo das jantes “Corona”, não gostei muito delas, embora equilibrem com o aspeto geral do carro. Felizmente, existem outras jantes disponíveis na gama, mais tradicionais e, portanto, mais desportivas, e que puxam mais o lado agressivo do condutor. Porque neste aspeto a imagem conta, e muito…
Quando o João Queiroz proferiu o termo “Corona”, houve uma risada geral, embora um pouco tímida. Afinal de contas, Portugal tinha acabado de registar os primeiros casos de infeção contagiosa pelo COVID-19, a nova variante de Coronavirus proveniente da cidade chinesa de Wuhan em plena era de globalização. Adiante… Ah, e já agora um apelo: FICA EM CASA! Isto se no momento em que leres este texto as restrições oficiais se mantiverem em vigor…
No exterior existem outros detalhes distintos das restantes versões MINI que tornam o SE numa versão sui generis, para além das jantes exclusivas e da grelha MINI praticamente tapada: a cobertura dos retrovisores exteriores contém um desenho não totalmente redondo, podendo ser em verde fluorescente ou outra cor; na porta da bagageira, a letra “S” escrita a seguir à menção “Cooper” é pintada de verde fluorescente, ao passo que o símbolo “E” de fundo verde fluorescente está estampado do lado esquerdo, em clara evidência; junto aos pilares A, o símbolo “E” verde fluorescente; o desenho em relevo do símbolo “E” na tampa da tomada elétrica da versão elétrica, em lugar da boca de combustível; as luzes de nevoeiro traseiras estão posicionadas nas extremidades do discreto difusor traseiro, aproveitando bem a natural ausência de ponteiras de escape. Na sua essência bem visível, o MINI Cooper SE é um verdadeiro MINI – onde não podiam deixar de marcar presença os farolins com o desenho da Union Jack e os faróis redondos à “Mini” com tecnologia “Full LED” – não uma aberração indesejável, como acontece em outros casos. Pena é que o design do para-choques dianteiro não espelhe a imagem do normal Cooper S, fazendo parecer mais um Cooper normal. Mas também não fica nada mal conforme se apresenta, e a verdade é que até confere mais eficácia aerodinâmica, pelo menos em teoria…
No interior, o destaque vai para diversos apontamentos em verde fluorescente (incluindo a luz ambiente do interior), para a inscrição “Cooper S” onde o “S” aparece uma vez mais na cor verde fluorescente, o botão central “start/stop” de estilo racing na consola central cuja característica cor vermelha é substituída pela cor verde fluorescente, mas sobretudo pelo painel de instrumentos do condutor que, em vez de analógico, é inteiramente digital, mostrando diversos parâmetros inerentes ao funcionamento da locomoção elétrica, incluindo o estado de regeneração de energia, que pode ser feita em dois níveis acionando um botão metálico que fica num dos lados do célebre botão “start/stop”, provocando dois níveis diferentes de desaceleração. Tal como no exterior, os engenheiros da MINI preocuparam-se em manter o característico design do interior que tanto faz reviver o ícone clássico, ao mesmo tempo que mantiveram o aspeto do ecrã de infoentretenimento, cujas funcionalidades do sistema “MINI Connected” se mantiveram intactas e até reforçadas pela funcionalidade que permite verificar o estado da bateria, seja em andamento, seja em carregamento. Brevemente, o painel de instrumentos 100% digital será replicado na restante gama em meados de 2020, com as especificidades próprias para as versões de combustão. Em termos gerais, o design de base é igual ao Cooper S tradicional e de qualidade premium, cujos bancos dianteiros proporcionam o necessário conforto, ao mesmo tempo que permitem aquele apoio lateral indispensável nas curvas. O mesmo é praticamente válido para os dois bancos traseiros, perfeitamente definidos e com sistema isofix para fixar as cadeiras auto de bebé.
Dentro do capô dianteiro, em lugar do motor de combustão mora o motor elétrico – alimentado por uma bateria de alta tensão, de 96 células, com uma potência de 32,6 kWh (capacidade bruta) – que debita para as rodas dianteiras uma potência de 184 cv (apenas menos 8 cv que o Cooper S tradicional) e 270 Nm de binário instantâneo desde o primeiro instante de aceleração (apenas menos 10 Nm do que o Cooper S tradicional cujo valor de binário máximo apenas está disponível num intervalo entre as 1300 e as 4600 rpm). Ao contrário do que seria desejável, a velocidade máxima está limitada a 150 km/h (contra os 235 km/h do tradicional Cooper S), mas tal se deve à necessidade de preservar a autonomia da bateria, que pode variar entre 216 e 234 km (ciclo WLTP) consoante a gestão de consumo que se faça nos três modos de condução que já existem nas versões de combustão interna (SPORT, MID, GREEN) e também no exclusivo modo de condução GREEN+, o mais ecológico de todos e apenas presente no Cooper SE. A bateria encontra-se montada sob o piso, entre os bancos dianteiros e sob os bancos traseiros (em forma de T), conferindo ao bólide um centro de gravidade muito baixo, provavelmente mais baixo até do que no tradicional Cooper S. Isto pode explicar a incrível eficácia no comportamento da versão elétrica, o que pode mesmo sugerir que o “Go-Kart Feeling” é ainda mais aguçado na versão elétrica. Na verdade, o sistema de controlo de tração Active Slip Regulation (ASR) é uma ajuda suplementar na hora de agarrar os pneus ao asfalto, sobretudo nas curvas longas e velozes.

A forma elíptica dos dois pedais colocados em posições opostas, aliada ao facto de a corrente elétrica ter um fluxo constante, faz com que as acelerações e travagens sejam muito mais fáceis de encadear em situações de ritmo alto e frenético. Além de que, com o sistema de regeneração ativo, o esforço necessário para travar com o pedal do travão é muito menor, e até em velocidades moderadas, este pedal é perfeitamente dispensável, pois o carro trava sozinho de modo mais ou menos progressivo… mas atenção à velocidade e consequente distância de travagem necessária para não bater no carro da frente! Ou seja, o melhor mesmo é primeiro conhecer a mania do carro e evitar choques desnecessários. Foi o que eu fiz por breves momentos… antes de experimentar o tal “Go-Kart Feeling”!…
Depois da belíssima apresentação e revelação do modelo feita no auditório do CEIIA, foi a vez da parte divertida da coisa: o teste-drive ao que alguns maliciosamente podem chamar de “monte de pilhas”. Não! É mesmo um MINI, puro e autêntico. Elétrico, mas autêntico! Esqueçam a parte do barulho do motor de combustão, da velocidade máxima avassaladora do “normal” Cooper S, da fraca autonomia do Cooper SE (propositadamente para não comprometer demasiado o peso do veículo, que ainda assim se cifra em 1770 kg, ou seja, mais 480 kg do que no Cooper S tradicional), ou ainda da ausência de patilhas no volante no SE. A caixa automática, cujo joystick é semelhante ao da versão de motor de combustão, contém apenas 1 velocidade… o que torna as acelerações muito mais fluídas e sem qualquer interrupções. Portanto, antes de tecer juízos infundados, e tendo em conta o meu aguçado gosto por carros desportivos, segui a recomendação do Product Genius MINI João Queiroz para experimentar quanto prazer de condução se consegue extrair do MINI Cooper SE num circuito deveras interessante, que passou pelas ruas de Matosinhos e do Porto… incluindo um delicioso troço entre a rotunda da Anémona e a rotunda do Castelo do Queijo. A experiência foi feita a bordo do carro #1, com a carroçaria pintada “Midnight Black Metalizado”, o tejadilho em “Jet Black”, os espelhos exteriores em “Energetic Yellow” e as jantes “Cosmos Spoke Black” de 17 polegadas.
A minha interação com o instrutor, que por acaso até é piloto de automóveis e de karting (não revelo aqui o nome, por questões de privacidade), foi excelente e facilitou-me bastante o trabalho, deixando-me bastante à vontade. A verdade é que estava com um feeling muito bom quanto à potencialidade do MINI Electric, e conduzir um carro de propulsão elétrica já não seria propriamente novidade para mim. Desde a saída do recinto senti que o meu turno de condução desportiva ia correr muito bem. E assim foi… até demasiado bem! A tecnicidade do trajeto foi um fator decisivo para explorar até quase atingir os limites de aderência. Mesmo em zonas em que o piso era mais irregular, o MINI Cooper SE apresenta um comportamento neutro graças a uma suspensão desportiva bastante evoluída (do tipo MacPherson à frente e com eixo multibraços atrás), ao centro de gravidade baixo e à distância entre eixos curta quanto baste, e isso foi comprovado quando contornei duas vezes seguidas a rotunda da Anémona antes de fazer a incursão naquele que outrora foi o troço mais espetacular do famoso Circuito da Boavista, oficialmente chamado de Via do Castelo do Queijo. Oh boy! Logo aí me deu a pica para uma aceleração alucinante nessa via. Nessa altura, o carro #1 já estava em modo SPORT. Certificando-me de que não havia perigo nenhum e que não tinha a Polícia à perna, assim que meti um bocado de pneu em alcatrão entrei em modo pedal to the metal e não hesitei sequer em fazer a curva do troço a fundo em direção à rotunda do Castelo do Queijo. O MINI Cooper SE não deslizou nem um milímetro para os lados, tal foi o grau de aderência ao solo. Fiquei tão abismado, ao ponto do instrutor dar uma valente gargalhada. Abrandando com relativa facilidade, graças à ativação da regeneração de energia, os quatro travões de disco até nem se ressentiram, o que comprovou o excelente nível de segurança que a versão puramente elétrica do MINI proporciona.

Chegado ao Castelo do Queijo, contornei a rotunda com relativa rapidez e sem qualquer sinal de adornamento. Com o sinal vermelho acabado de acender na zona da entrada pelo sentido contrário na Via do Castelo do Queijo, agora em direção à rotunda da Anémona, o MINI faz uma travagem rápida, mas nada brusca. Com ainda mais confiança, esta é a tal oportunidade de testar a aceleração de 0 a 100 km/h que se cifra em 7,3 segundos, apenas mais lenta 0,6 segundos do que no tradicional Cooper S. Mal acende o semáforo verde, ele sai disparado sem derrapar pneu. Dei-me mesmo ao luxo de efetuar uma trajetória por dentro da curva sem pestanejar e sem interromper a aceleração (com plena noção de que podia fazê-lo em segurança), até que chegado ao semáforo intermédio, comecei a desacelerar progressivamente, precisando apenas de um toque leve ao travão para imobilizar o veículo em segurança, antes de reentrar na rotunda da Anémona, para sair logo em direção à Estrada da Circunvalação, percorrendo rapidamente a pequena parcela antes de voltar à Avenida Dom Afonso Henriques, onde fica o CEIIA. Aí fiquei com uma vontade de dar mais uma volta ao circuito, mas chegou mesmo a hora de reentrar no complexo. Nem a quase total ausência de barulho foi motivo algum para que o prazer de condução esmorecesse, mas caso houvesse algum problema com isso, sempre teria a opção de ouvir música cujo som é emanado do sistema de alta fidelidade da Harman Kardon.
O João Queiroz bem me tinha avisado pouco antes de entrar no carro de que ia adorar a experiência, e assim foi!…
Conclusão: Tornou-se claro que a experiência de condução não belisca de modo algum o carácter desportivo que sempre caracterizou as variantes Cooper, seja do Mini clássico, seja do MINI da era BMW. Aliás, se nos anos 60 do século passado não tivesse aparecido o preparador John Cooper para fomentar e desenvolver as versões desportivas Cooper e Cooper S, que se viriam a tornar populares nos ralis mundiais e no filme original “Italian Job”, certamente que o inovador mas conservador Cooper SE não teria um comportamento tão divertido. Melhor e mais bruto em termos absolutos, só mesmo a apimentada versão “John Cooper Works”. E mesmo melhor do que esta versão, o mais radical de todos, que é o novo MINI “John Cooper Work GP”, sobre o qual falarei noutro artigo, brevemente…


O MINI Cooper SE está disponível com preços desde 34.000 € exclusivamente na típica versão de três portas, com quatro níveis de equipamento que utilizam denominações de vestuário, do mais básico nível S até ao mais completo XL, passando pelos níveis M e L. Existem ainda várias opções de personalização de diversas partes do carro, tais como a carroçaria, o tejadilho, os espelhos retrovisores exteriores e ainda as jantes. Toda a informação completa sobre este e todos os restantes modelos MINI está disponível no Website oficial da MINI.
O seguinte vídeo oficial explica em detalhes essenciais tudo o que necessitas de saber sobre o novo MINI Electric, já à venda em Portugal. Mas é melhor testares num concessionário oficiaL MINI se o COVID-19 tiver fugido de vez. Caso contrário, toma as devidas precauções, está bem?