A nova geração do utilitário francês, que é o campeão nacional de vendas, representa um salto qualitativo a todos os níveis, tornando-o mais familiar do que nunca, o que abona claramente a seu favor na hora de o adquirir; para além do aumento notório espaço para os passageiros, a capacidade da mala subiu para uns impressionantes 391 litros. Razões mais do que suficientes para se tornar num alvo a abater no segmento B (mais uma vez).
Assente na nova plataforma CMF-B, reservada ao segmento B, a quinta geração de um dos maiores ícones franceses do setor automóvel é de facto a mais consensual de todas. Exteriormente, representa uma agradável evolução face à geração anterior, cujo poder sedutor é o seu “toque de Midas”, contando com apenas alguns milímetros de comprimento a menos que nem se notam (12 mm para ser exato), uma nova assinatura luminosa “Full LED” em forma de “C” (já presente no atual Mégane e no Talisman), acabamentos em cromado e linhas sedutoras que conferem ao mesmo tempo um certo dinamismo. Mas é sobretudo no interior que o design se revela inovador, mais apelativo e confortável do que nunca, onde se integra aquilo a que a Renault chama de Smart Cockpit, claramente orientado para a eficácia e conforto de condução e que inclui uma consola central, um ecrã de infoentretenimento vertical de 9,3 polegadas e um ecrã TFT que varia consoante as versões. Pela primeira vez na história da saga Clio, é adotado um conjunto de vários sistemas de segurança que ajudam a que a condução seja notoriamente mais segura. E, pela primeira vez num Clio, são adotados modos de condução comandados eletronicamente.
O novo Clio foi estreado em meados de setembro em solo português, disponibilizando quatro linhas de equipamento (Intens, R.S. LINE, Exclusive e a mais completa e luxuosa INITIALE Paris) e quatro motores turbo, dois deles a gasolina (o motor 1.0 TCE 100 de 3 cilindros e 100 cv e o motor 1.3 TCE 130 EDC FAP de 4 cilindros e 130 cv) e outros dois a diesel (o motor 1.5 Blue dCi 85 de 4 cilindros e 85 cv e o motor 1.5 Blue dCi 115 de 4 cilindros e 115 cv). Entretanto e pouco depois da estreia chegou a versão mais básica de todas, a Zen, a única a utilizar as básicas jantes em ferro com embelezadores de rodas (mais usualmente chamados de tampões), bem como a versão puramente atmosférica do motor a gasolina de 3 cilindros que debita uns simpáticos 75 cv (SCe 75). Existem várias opções de caixa de velocidades: a caixa manual de 5 velocidades para os blocos a gasolina de 3 cilindros, a caixa manual de 6 velocidades para os blocos a diesel e, por fim, a caixa automática EDC de 7 velocidades com patilhas no volante para os dois blocos a gasolina de 4 cilindros. Sim, porque existe ainda outro bloco a gasolina com essa tipologia, mas noutro molde…
No decorrer de 2020, uma estreia absoluta na gama: a inédita motorização hibrida E-TECH, composta pelo motor atmosférico 1.6 a gasolina unido a um motor elétrico que se alimenta de uma bateria alojada no eixo traseiro e debaixo da bagageira, que permitirá uma condução 100% elétrica em 80% do percurso urbano uma poupança de 40% em termos de consumo de gasolina, ao passo que permite a melhor resposta em termos de aceleração face a qualquer um dos restantes motores da gama, e que certamente será um belo aditivo à versão desportivo R.S. LINE.
O Clio V ficará também para a história por ter estreado uma nova cor na carroçaria, denominada Laranja Valência. Estão disponíveis também as cores Branco Glaciar, Cinzento Platina, Cinzento Platina, Cinzento Titanium, Cinzento Urban, Preto Estrela, Castanho Vison, Vermelho Flame, Azul Céu e Azul Iron (esta última cor apenas disponível para a versão R.S. LINE).
A linha desportiva R.S. LINE
Tive a felicidade, com o especial apoio e incentivo do concessionário da marca Renault, a JAPautomotive do grupo JAP, especialmente na pessoa do consultor comercial Carlos Fraga, de testar a versão desportiva R.S. LINE com o motor turbo de 3 cilindros e 100 cv, comandado pela caixa manual de 5 velocidades. Este teste contou com a preciosa ajuda da minha esposa, tal como podeis ver no vídeo abaixo deste artigo, entretanto já publicado no canal de YouTube do blogue SPUNIQCARS, o qual convido a ver a quem ainda não o viu. Este teste serve de mote para escrever as linhas seguintes, exclusivamente sobre esta versão desportiva, que é a que interessa para o espírito do blogue.
A versão R.S. LINE, não sendo o verdadeiro Clio R.S. (cuja nova geração há de vir brevemente, com pelo menos 200 cv de potência), distingue-se exteriormente das restantes versões pelos detalhes estilísticos que remetem para o ambiente de competição em que a divisão desportiva Renault Sport mergulha: o parachoques dianteiro com grelha F1, as placas identificativas com a sigla “R.S. LINE” presentes nas laterais e na traseira do veículo, a grelha dianteira inferior com estrutura alveolar, a aba traseira com difusor e uma ponteira de escape oval em cromado e ainda as jantes exclusivas R.S. LINE de 16 ou 17 polegadas.
Uma grande vantagem ao se optar por esta versão é o facto de poder escolher um dos quatro blocos sobrealimentados disponíveis na gama Clio, coisa que não acontece nas outras versões. Claro está que a versão de motor mais interessante é a TCe de 130 cavalos com a caixa automática EDC de sete velocidades, cuja velocidade máxima se cifra nos 200 km/h e a sua aceleração de 0 a 100 km/h é de apenas 9 segundos, com um binário máximo de 240 Nm. Contudo, as restantes versões disponíveis conferem sempre um poder de fogo suficiente quanto baste para que o pequeno familiar se consiga soltar sem nunca perder a compostura que tanto o caracteriza. E a verdade é que a versão TCe de 100 cavalos mostrou ser bastante poderosa em acelerações bruscas, sendo apenas cerca de três segundos mais lenta na aceleração de 0 a 100 km/h, com a velocidade máxima a cifrar-se nos 187 km/h (não que este detalhe tenha sido experimentado, de facto…). Mesmo tratando-se de um motor de apenas 3 cilindros e 999 cm3 de cilindrada, que sai ligeiramente mais beneficiado em termos de consumos combinados (5.2 litros contra os 5.7/5.8 litros do motor de 130 cv). Curiosamente (ou talvez não), e apesar de não contar com a caixa automática EDC de sete velocidades, a versão diesel de 115 cv consegue o mesmo valor de aceleração e de binário que a versão a gasolina de 130 cv, com a velocidade máxima a ser apenas 3 km inferior. Quanto à versão diesel de 85 cv, esta tem a clara vantagem de possuir um binário máximo superior à versão a gasolina de 100 cv (220 Nm contra 160 Nm), apesar de ter prestações inferiores em termos de velocidade (178 km/h de velocidade máxima e 14,7 segundos de 0 a 100 km/h).


Devo dizer que o interior é soberbo, reforçado pela herança desportiva da Renault Sport, pese embora o requinte natural desta nova geração que atinge um patamar inesperado para um carro do seu segmento, com um design distinto dos restantes modelos da gama Renault. Aqui o Clio se manifesta que não é uma versão diminuta do Mégane, mas sim um utilitário com personalidade, sensualidade e até uma certa desportividade natural, mesmo na versão Intens. Na generalidade, o interior é revestido de materiais de elevada qualidade, algo que apenas se verifica normalmente em veículos de segmento superior. Os bancos possuem um desenho ergonómico, conferindo conforto e apoio para as curvas mais apertadas, com especial reforço na versão R.S. LINE. Pormenores exclusivos desta versão são também: a zona inferior do tablier com revestimento em carbono; os pespontos vermelhos nos bancos e na alavanca da caixa de velocidades; as linhas vermelhas nas extremidades dos cintos de segurança; o volante multifunções com design desportivo em couro perfurado, com o losango duplo R.S. na zona inferior; os pedais em alumínio; a linha vermelha que atravessa todo o tablier na zona de ventilação; a linha circundante da base da consola central; o painel de instrumentos com instrumentalização digital exclusiva para a versão R.S. LINE com tons em vermelho, onde se destaca o conta-rotações e as duas barras que indicam, separadamente, o nível de potência instantânea e o nível de binário instantâneo; por fim, as etiquetas de borracha com a impressão em relevo do losango duplo R.S., cozidas na zona lateral dos bancos dianteiros. Todos os bancos da versão R.S. LINE são de série estofados em tecido/TEP ou, como opção, em couro de origem bovina, mas sempre com pespontos vermelhos.

O novo sistema multimédia denominado EASY LINK, materializado e concentrado num ecrã tátil de 9,3 polegadas em posição vertical (existe também um ecrã mais pequeno de 7 polegadas), é o mais evoluído sistema de infoentretenimento da Renault, e também está presente nos novos Twingo e Zoe. Permite o acesso a várias aplicações em total segurança, tais como o sistema de navegação com a informação de tráfego em tempo real, sistema de chamadas por Bluetooth, estações de rádio ou ainda a as várias aplicações do smartphone diretamente no ecrã através da ligação USB, cujo emparelhamento é feito pelo sistema Android Auto™ (se o smartphone tiver sistema Android) e pelo sistema Apple CarPlay™ (se o smartphone tiver sistema iOS, sendo portanto um iPhone). O sistema de navegação incorporado é da TomTom e contém um sistema de pesquisa Google que busca uma infinidade de destinos, atualizando a informação a cada dois minutos para a menor possibilidade de erro. Também permite localizar em tempo real as estações de serviço mais próximas do carro e comparar mesmo os preços dos combustíveis, a fim de proporcionar a escolha mais acertada. O planeamento da viagem pode ser feito na aplicação MY Renault utilizada a partir do smartphone mesmo antes de entrar no veículo. Graças à tecnologia Auto-Update, e desde que ligação à internet esteja ativada, a cartografia do sistema de navegação é atualizada dentro do próprio sistema de multimédia.
Em termos de segurança, a versão R.S. LINE vem equipada com um rol considerável de sistemas do vasto pacote ADAS que é transversal a praticamente todas as marcas: fecho centralizado de portas, sistema de travagem com anti-bloqueio de rodas (ABS), sistema de assistência à travagem de urgência (AFU), fixação ISOFIX (para cadeira de criança), cintos de segurança traseiros de 3 pontos, airbags laterais de condutor e passageiro do tipo “cortina”, airbags frontais de condutor e passageiro (cabeça e tórax), alerta de excesso de velocidade com reconhecimento dos sinais de trânsito, alerta de distância de segurança, sistema de assistência na transposição involuntária da via, alerta de esquecimento do cinto de segurança (nos 5 lugares), sistema de travagem de emergência ativa com deteção de peões e ciclistas (chega a imobilizar totalmente o veículo), função de desconexão do airbag passageiro e, por fim, o controlo eletrónico de estabilidade (ESP) e, por fim, o “delicioso” sistema de ajuda ao arranque em subida (HSA). Pode ainda conter, como opção, o sistema de alerta de ângulo morto, que na versão INITIALE Paris é de série.
Em termos de sistemas de ajuda à condução, destaque para o sistema de ajuda ao estacionamento traseiro, o regulador e limitador de velocidade (cruise control), o sistema de comutação automática de luzes de estrada e cruzamento, o modo de condução “ECO” que promove uma condução mais relaxada com consumos mais comedidos, os faróis de nevoeiro, os faróis traseiros em LED com assinatura luminosa, os travões de disco dianteiros ventilados, entre outros. É criticável, tal como refiro no vídeo que podeis ver abaixo, a utilização de travões de tambor no eixo traseiro, pois além de não serem tão eficazes como os travões de disco, representam um atraso face à clara evolução do Clio em termos de dinamismo e de prestações ao longo de cinco gerações.


Existem ainda outros gadjets interessantes, tais como por exemplo: o cartão Renault Mãos-Livres, que substitui a chave tradicional e aciona automaticamente a abertura e o fecho das portas consoante a aproximação ou o afastamento do portador da chave em relação ao veículo, com consequência no rebatimento/reposicionamento automático dos retrovisores exteriores; os elevadores elétricos dos vidros dianteiros e traseiros com função de impulso; a regulação em altura dos cintos de segurança dianteiros; os apoios de cabeça traseiros “Confort”; o sistema de ar condicionado automático e a consola central com compartimento para duas garrafas de água. A unidade ensaiada está equipada com o tradicional travão de mão, revestido em couro e com pespontos vermelhos; contudo existe também a opção do travão de estacionamento assistido com função Auto-Hold.
Toda a informação sobre todas as versões deste modelo podem ser encontradas em https://www.renault.pt/. Também podeis conhecer o Grupo JAP através do website http://www.grupojap.pt/.
Não existem grandes dúvidas de que esta nova geração irá ser mais um sucesso de vendas. A questão é perceber se vai ser mais uma vez o modelo mais vendido. Independentemente disto, a verdade é que existe muito equipamento de série comum em todas as versões, e em termos de segurança houve um avanço significativo que se reflete num comportamento mais neutro, que chega a roçar em alguns aspetos o de um GT, o que confere ao Clio um estatuto superior, reforçado pelo design tão vanguardista quanto conservador, preservando o melhor da geração anterior com o aprimoramento em pontos chave. A decisão da Renault em substituir a designação “GT Line” pela designação “R.S. LINE” foi a mais acertada, na medida em que honra os pergaminhos da divisão desportiva da Renault e tem o condão de captar mais eficazmente novos clientes com aquela veia desportiva e que gostem do ambiente de competição. Razão pela qual eu gostei imenso de conduzir esta versão, mesmo sabendo que não se tratava da versão mais potente, pois todo o ambiente de competição está muito bem impregnado nesta versão e pude desfrutar um pouco da emoção de transportar a genética de competição da Renault Sport. Ainda assim, estou ansioso por testar a versão R.S. LINE com o tal motor de 130 cv e caixa automática EDC. E se vier a tal nova geração do Clio R.S., também hei de experimentar. Bom, melhor ainda é o atual Mégane R.S.. E melhor ainda o que está acima deste, o Mégane R.S. Trophy! Vou testá-los a todos, acreditem!
Feliz aquele que possui esta unidade que ensaiei; sei que anda algures por aí e já vi a circular, mas não digo onde…
Como recordação do teste, deixo-vos este vídeo, que foi publicado com o apoio da JAPautomotive. Espero que gostem!
Um abraço a todos!
AR