A moda dos Sport-Utility Vehicle (vulgo SUV) veio para ficar, e já se alastrou a marcas de automóveis tradicionalmente conhecidas exclusivamente pelos seus superdesportivos icónicos. É neste contexto que surge uma improvável Lamborghini, cujo estilo de roupagem se tem destacado por um atraente radicalismo, como aliás foi sempre apanágio da firma de automóveis fundada por Ferruccio Lamborghini, sediada em Sant’Agata Bolognese. O melhor exemplo disso é o histórico Countach. Bom, talvez não seja tão improvável assim…

Recuemos 32 anos atrás no tempo. A firma italiana, cuja marca está também associada ao fabrico de tratores agrícolas desde 1948 (15 anos antes do começo do fabrico de automóveis), foi pioneira no fabrico de SUV’s, apresentando em 1986 um modelo com propriedades de todo-o-terreno, semelhante a um veículo militar, com performance elevada e ao mesmo tempo um interior de luxo: o LM002. Utilizou o motor do Countach, um V12 de 5167 cc que debitava 450 cv. Os pneus, de enormes dimensões, foram desenvolvidos especialmente pela Pirelli para suportar as consideráveis dimensões do veículo de quatro portas e com capacidade para quatro ocupantes (2+2), mas também as generosas prestações (2700 kg; 1,9 m de comprimento), com um alcance máximo superior a 200 km/h. Teve quase tudo para ter um inegável sucesso comercial, mas o facto de ter surgido antes do tempo e a instabilidade financeira da Lamborghini ditaram o fracasso, que se traduziu em apenas 328 unidades produzidas durante seis anos. Em 1998, após anos de incertezas, a alemã Audi encarregou-se de dar uma nova vida ao touro quase moribundo, ao comprar a firma italiana de automóveis, mantendo a promessa de continuar a fazer frente à Ferrari… e de chamar os modelos por nomes de touros!

E tem-no feito com bastante distinção. A verdade é que a Lamborghini, agora sob a batuta do antigo chefe de equipa da Ferrari F1, Stefano Domenicali, apesar de adotar a base mecânica do grupo Audi que amestrou um pouco a fama de touro enraivecido, para além do design tipicamente “Lambo” ganhou a dose de fiabilidade que faltou aos modelos da era anterior. Sedimentou o seu lugar ao sol com os modelos Murciélago (o sucessor do Diablo), Gallardo, Aventador e Huracán, apresentando ainda protótipos que serviram de mero ensaio estilístico – o Asteron (estudo sobre o possível regresso do icónico Miúra) e o Estoque (protótipo de GT de quatro portas) – e tendo mesmo produzido modelos exóticos de edição muito limitada, a saber: Reventón (2007), Reventón Roadster (2009), Veneno (2012), Veneno Roadster (2013) e Centenario (2016, ano do centenário do nascimento de Ferrucio Lamborghini).
Os SUV’s ocupam cada vez mais espaço no mundo automóvel, sobretudo pelo alto grau de versatilidade. Uma moda que contagiou várias marcas de luxo, tais como a Jaguar, a Maserati e até a Land Rover, por exemplo. Foi neste contexto que a Lamborghini teve a ideia de, com os conhecimentos tecnológicos atuais, reavivar a memória da invenção do conceito. Meteu mãos à obra e conseguiu algo de verdadeiramente inédito.
Bom, um superdesportivo é todo aquele carro que alcança uma velocidade máxima superior a 300 km/h, certo? E quem disse que um superdesportivo não pode ser um SUV? Pois bem, a Lamborghini concebeu um SUV capaz desse feito: o Urus.

A Lamborghini adotou o nome de modelo Urus em memória dos auroques, os antepassados dos touros que corriam livres em qualquer tipo de terreno, uma autêntica inspiração para as suas propriedades de todo-o-terreno. O Urus é aquilo a que os responsáveis da marca chamam de Super Sport Utility Vehicle (SSUV), e é, de facto, o primeiro da sua subespécie. Teve uma primeira apresentação na sede da marca, mas também num evento especial em Singapura (Ásia), em dezembro de 2017, a que se seguiu uma mostra no Salão de Genebra de 2018. Com linhas robustas e dimensões generosas, que transmitem muito do design típico mas também as linhas basilares do nicho onde se enquadra, o novo porta estandarte da marca tem claramente todas as características dinâmicas de um off road moderno, a que se junta o poderoso motor 4.0 V8 biturbo que debita 659 cv às 6000 rpm e 850 Nm de binário. A velocidade máxima do SSUV primogénito é de 305 km/h, com uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 3,6 segundos e dos 0 aos 200 km/h em 12,8 segundos, o que o torna até ao momento no SUV mais rápido do mundo, com a ajuda da caixa automática de oito velocidades. Isto apesar do peso elevado de 2200 kg. Sobre isto, a Ferrari promete responder…

O Urus dispõe de propriedades dinâmicas que lhe permitem andar em todo o tipo de terreno. Tais propriedades são geridas pelo sistema ANIMA, sistema exclusivo da Lamborghini que permite ao condutor alternar entre seis modos de condução: três on road e outros tantos off road. Os três modos de estrada são: o STRADA para facilidade de condução, conforto e segurança; o SPORT para agilidade, capacidade de resposta e diversão de condução; e CORSA para precisão e desempenho máximo. Já os três modos de off road são: o NEVE que garante facilidade e segurança mesmo em superfícies escorregadias; o TERRA que garante conforto e facilidade em condições off-road; e o SABBIA que é o ideal para superfícies arenosas. Existe ainda um modo transversal a todos os modos já enunciados, o EGO, que redefine a dinâmica do veículo de acordo com as necessidades em termos de direção, suspensão e tração. Por falar em tração, o Urus possui um sistema de tração integral com vectorização de binário, para uma constante adaptação do veículo a qualquer tipo de aderência consoante as condições do piso, e consequente dinâmica exemplarmente constante, evitando assim quaisquer possibilidades de derrapagem.

Existe também um sistema sofisticado de segurança e de assistência à condução que tornam o carro extremamente fácil de conduzir, permitindo a todos os ocupantes viajar confortavelmente e em segurança. O Urus é, de longe, o mais versátil de todos os Lamborghini até agora construídos e, talvez, aquele que apresenta o design mais consensual. Para além de um grande estradista, é de uma acessibilidade incrível no que respeita à condução em meios urbanos. Graças ao pacote ADAS (Advanced Driver Assistance Systems), o condutor pode escolher entre os modos “Urban Road”, “Full ADAS” e “Highway”, consoante as preferências individuais de direção, por questões de maneabilidade.


Olhem bem para o interior. Não engana, é de um Lamborghini, até porque os logótipos aplicados no volante e na zona do porta-luvas assim o denunciam. Parece um autêntico cockpit de avião, seja pelos comandos dos modos de condução que parecem alavancas de levantar voo, seja pelas linhas predominantemente retas do tablier, dos puxadores das portas e dos bancos. Ou, se preferirem, comparem-no a uma estação de videojogos moderna, se prestarem mais atenção ao pormenor do apoio dos bancos e à disposição dos ecrãs de comandos e infoentretenimento na consola central do tablier. Existem três ecrãs TFT, um para os instrumentos, um para entretenimento informativo e outro para funções de conforto, incluindo a funcionalidade de teclado virtual com reconhecimento de escrita manual. A arquitetura do painel de instrumentos segue o tema “Y” inspirado nos modelos icónicos da Lamborghini. O interior pode ser personalizado para ser mais elegante ou mais desportivo, através da seleção de diferentes tipos de cores e materiais, tais como: couro natural, Alcantara®, acabamento em madeira, alumínio ou carbono – com a opção de sofisticação adicional em materiais selecionados através da costura de contraste ou “Q-citura”.

O design denuncia traços inconfundíveis de um Lamborghini. São eles os elementos “Y” e hexagonais, a capota frontal com o pico no centro e as linhas cruzadas na porta traseira. O que distingue dos restantes modelos da gama é a silhueta SUV com um aspeto visual que o torna num carro desportivo, elegante e versátil para todo o tipo de terreno. O Urus busca inspiração em termos de vocação no LM002, herdando desde o posicionamento do motor (à frente) e as dimensões os pneus, que neste caso apresentam conotação claramente desportiva. No geral, o conceito revela ser extremamente funcional e, em abono da verdade, na minha opinião é o mais atraente da história da firma italiana.

Entre outras especificações técnicas, destacam-se os pneus (285/45 ZR21 à frente 315/40 ZR21 atrás) e as jantes especiais (9.5Jx21″ ET28 à frente e 10.5Jx21″ ET18 atrás) de dimensões generosas, assim como os travões de discos de carbocerâmicos (440 mm de diâmetro e 40 mm de espessura à frente, 370 mm de diâmetro e 30 mm de espessura atrás) com pinças de alumínio de 10 êmbolos à frente e pinças flutuantes de 6 êmbolos atrás, a capacidade para conco passageiros, a mala de 616 L (extensível para 1638 L), o eixo traseiro direcional e ainda a suspensão pneumática com uma barra estabilizadora ativa eletromecânica, uma estreia na marca, oriunda do Audi Q8.
O novo Urus chega ao mercado na primavera de 2018, com um preço base de 171429€, numa produção limitada a 3000 exemplares por ano. Não há tempo a perder para assistir à chegada de um novo touro selvagem à arena portuguesa. E não vai haver toureiro que o segure…