Depois da desilusão resultante do cancelamento da edição do Caramulo Motorfestival de 2020 – devido às restrições de saúde impostas pela DGS face à grave situação pandémica provocada pelo surgimento e transmissão do vírus SARS-CoV-2 responsável pela doença Covid-19 que, lamentavelmente, já matou milhões de pessoas em todo o mundo -, felizmente o surgimento das vacinas contra este maldito vírus e o facto de a grande maioria da população portuguesa ter tomado a atitude certa de se vacinar contribuiram positivamente para que 2021 fosse o ano do triunfal regresso do maior festival motorizado em Portugal. O Caramulo Motorfestival de 2021 foi, assim, “uma vingança servida a quente”, de acordo com as palavras da organização do magnífico evento que reúne, desde 2006, carros de todas as eras desde a génese do Automóvel, mas também motas de igualável valor histórico, isto entre outras atrações – como por exemplo a Feira de Automobilia – que apimentam o espírito de todos os petrolheads que acorrem, aos milhares, à pequena vila do Caramulo, situada em plena Serra do Caramulo, distrito de Viseu. Muitos deles trazem as suas máquinas de eleição, o que enriquece ainda mais a paisagem automobilística que se estende de um extremo a outro extremo da pacata vila que apenas se torna num manancial de gentes, carros, carrinhos e carrões no fim de semana dedicado ao festival automobilístico, que é apenas comparável com o Festival de Velocidade de Goodwood (Inglaterra). Não é por acaso que, a certa altura, o reputadíssimo Automóvel Clube de Portugal – o mais antigo clube de automobilismo português em atividade que foi, durante décadas, a Autoridade Desportiva Nacional para as corridas de automóveis – se juntou ao prestigiado Museu do Caramulo para co-organizar o evento anual, dada a sua comprovadíssima competência e reputação como edificador e organizador de diversos eventos desportivos (o Rali de Portugal é o melhor exemplo disso). E o resultado está à vista: mais de 30 mil pessoas acorreram ao Caramulo para disfrutar dos vários eventos criados para a edição de 2021, graças a uma esmerada promoção do evento no website e nas redes sociais do evento (Facebook, Instagram e YouTube).

Muito antes do surgimento do Caramulo Motorfestival, o Museu do Caramulo – uma ideia original de Abel de Lacerda, apaixonado pela arte – era, desde a sua fundação em 1953, a maior referência da pequena vila, tendo sido edificado originalmente com o vincado objetivo de expor uma invulgar colecção de objectos de arte constituída por 500 peças de pintura, escultura, mobiliário, cerâmica e tapeçarias, que vão desde a era Romana até ao célebre pintor espanhol Picasso, uma coleção que se manteve intacta até hoje no edifício central de conceção museologicamente moderna que constitui o Museu de Arte. Em 2019, aquando da minha visita ao Museu do Caramulo de propósito para ver a exposição “Supercarros”, aproveitei a oportunidade de ver este autêntico tesouro de peças autênticas que pode ser apreciado no excelente documentário “Abel de Lacerda: O Colecionador Utópico” (cuja visualização é quase obrigatória), que aborda mesmo a curiosa origem da já centenária vila do Caramulo (1921-2021). Na sua essência, o que aconteceu de verdadeiramente extraordinário na recôndita vila de Caramulo foi graças ao espírito empreendedor da família Lacerda, e tudo começou com o já extinto sanatório do Caramulo, criado pelo Dr. Jerónimo de Lacerda, pai de Abel e de João de Lacerda.
Mais tarde, o irmão de Abel, João de Lacerda, um verdadeiro apaixonado por automóveis, não obstante a missão de continuar a obra do irmão – que morrera prematuramente em 1957 -, construiu um edifício junto ao Museu de Arte, que deu origem ao Museu Automóvel do Caramulo que foi inaugurado em 1970 pelo então Presidente da República, que hoje alberga e expõe cerca 100 icónicos exemplares de automóveis, motos e velocípedes (tudo começou com um velho Ford Model T), tendo por princípio o excelente estado de conservação e de fiabilidade de todos os veículos de modo a que possam sempre sair do edifício para circular na estrada em eventos especiais, tais como passeios temáticos, seja em plena vila do Caramulo, seja noutros locais do país. Foi a enorme recetividade do público ao longo dos anos, bem como a confiança dos donos e doadores dos variadíssimos modelos que hoje “habitam” o museu automóvel permanente, que permitiram creditar o Museu do Caramulo – hoje gerido pela Fundação Abel e João de Lacerda – como um dos mais recomendáveis locais museológicos a nível internacional nas vertentes da Arte e do Automóvel (este, por si só, uma expressão da arte em movimento). A coleção não pára de crescer, e prova disso é a recente entrada de um exemplar do descapotável BMW 328 de 1937. Bem… O melhor mesmo é darem um salto ao canal de YouTube do Museu do Caramulo para verem este e outros bólides expostos no Museu do Automóvel, parte integrante do Museu do Caramulo. Melhor ainda é visitarem o Caramulo e toda a coleção do Museu, tal como eu fiz em 2019 com a promessa de regressar ao mágico lugar, desta feita para viver o Caramulo Motorfestival, dois anos depois…
A ESSÊNCIA DO QUE VIVI NO CARAMULO MOTORFESTIVAL DE 2021
Sendo eu um petrolhead assumido perante todos os que me conhecem bem, tinha feito a mim mesmo a promessa de viver pela primeira vez o Caramulo Motorfestival. Era para ser em 2020, mas a pandemia apenas fez adiar o cumprimento da promessa por um ano. Com a preciosa companhia da minha mulher e dos meus sogros, lá fomos todos ao Caramulo transportados pelo velhinho mas super fiável Renault Clio II 1.2 Fase I de 1998 (no momento em que escrevo estas linhas já percorreu mais de 362 mil km). O tempo estava de facto excelente e finalmente estavam reunidas todas as condições para a realização de um dos maiores festivais motorizados anuais de Portugal, senão mesmo o maior do país. O Caramulo Motorfestival é, em primeiro lugar, um autêntico “viveiro” de carros modernos e clássicos de um vasto leque de construtores, mas também de motas, bicicletas, aviões, veículos militares e outros tipos de veículos que abrangem toda a história da locomoção motora desde os primórdios, cuja concretização se deveu ao pioneirismo genético de três descendentes da família Lacerda: Salvador Patrício Gouveia, Tiago Patrício Gouveia e João Lacerda.

O forte atrativo do festival – principal razão pela qual foi criado o Caramulo Motorfestival – é a atualmente designada de Rampa Histórica Michelin, que se desenrola no mesmo traçado da convencional Rampa do Caramulo, prova organizada pelo Targa Clube para o Campeonato de Portugal de Montanha FPAK. O traçado tem cerca de 2800 metros de extensão, sendo pouco inclinado mas com curvas sempre exigentes sob o ponto de vista técnico, o que é mais do suficiente para garantir doses extremas de adrenalina nas veias tal como numa pista em circuito, sobretudo se estivermos a bordo de carros de performance estonteante e se o nível de condução/pilotagem for tão entusiasmante quanto eficaz o suficiente para não causar calafrios nem desapontamentos.
No entanto, o Caramulo Motorfestival, na sua essência, não se resume à realização de eventos desportivos na Rampa Histórica Michelin, tais como as provas de Velocidade e de Regularidade, onde participam carros de várias classes e eras devidamente certificados para o efeito pelo Museu do Caramulo. Na verdade, o festival tem sido cada vez mais uma colorida enchente de automóveis e motas em excelente estado de conservação que acorrem à vila vindos de todo o país, com idades e histórias muito variadas. Esta edição foi palco de várias estreias marcantes: a primeira presença oficial da marca Aston Martin, que apresentou os seus atuais modelos icónicos tais como o Vantage, o DB11, o DBS Superleggera, o DBX e o mais exclusivo e recente V12 Speedster; a Guarda Nacional Republicana trouxe pela primeira vez uma prestigiante montra de veículos clássicos que fizeram parte da história do seu serviço ao país no passado, entre os quais um Porsche 356B Cabrio de 1961 e um Volkswagen Carocha de 1974; pela primeira vez o Caramulo Motorfestival dedicou um espaço exclusivo para os mais variados veículos de duas rodas, o Bikersville; a Rampa Histórica Michelin admitiu duas novas classes de veículos participantes, a categoria dos clássicos monolugares da Fórmula Vee (com a base mecânica do Volkswagen Carocha) e a categoria Pré-Guerra, reservada aos carros fabricados até 1939, ano do começo da Segunda Guerra Mundial; por último, em comemoração dos 50 anos do icónico utilitário Fiat 127, teve lugar pela primeira vez um passeio dedicado a este clássico modelo, através do desfile de 50 exemplares em excelente estado de conservação pela Rampa Histórica Michelin acima.

Num vasto complexo automobilístico excelentemente organizado com vários pontos atrativos, houve ainda lugar a exposições de carros exóticos (como por exemplo um raro Bugatti EB110, um também raro Mercedes-McLaren SLR e um ainda mais raro Facel Vega). Na vasta lista de variadíssimas preciosidades em exposição para venda da Feira de Automobilia, vivi uma profunda emoção ao encontrar um já raro exemplar de um preciosíssimo ícone da minha infância, nada mais nada menos que um carrinho a pedais do modelo Bébécar Pantera GTS (inspirado no De Tomaso Pantera GTS), que tantos da minha geração (eu incluido) tiveram o prazer de “conduzir”.
Perante tanta culturalidade automobilística patente na pequena vila do Caramulo, vivi com privilégio a emoção de ver carros de diferentes marcas e eras que desfilaram à minha frente rumo à Rampa Histórica Michelin. Vi ainda grupos muito bem formados de variados modelos Porsche e Ferrari que, a certa altura do dia, rugiram em simultâneo em sinal de rivalidade para mais tarde fazerem um passeio em conjunto; no meio dos Ferrari do evento Passeio Maranello Legacy que se encontravam no parque de estacionamento em frente ao edifício principal do Museu do Caramulo estava um Corvette C7 Z06 com decoração militar que rugia mais que qualquer um dos Ferrari presente, sendo um muscle car americano rendido à arte dos supercarros italianos. Perante uma imensidão de gente, não foi fácil os Ferrari seguirem rumo à Rampa, mas o facto é que não é todos os dias que se vê com tremenda paixão um possante grupo de carros Ferrari a sairem em fila com o característico rugido ferrarista de diferentes variantes, consoante o modelo e a época em que foram construídos.

Os Porsche, por seu lado, fizeram o seu Encontro Porsche, apresentando entre vários modelos o mais recente Porsche 911 GT2 RS e o mais recente Porsche 911 Turbo (da atual geração 992). Mais emoções fui vivendo ao longo do dia, apreciando carros com história e valor patrimonial. Outro momento marcante foi ver bem de perto um dos exemplares do Bugatti Type 35B (pertença do Museu do Caramulo) a arrancar tal como na época em que foi construído, funcionando tão bem como nesse tempo e com um estado de conservação imaculado. O Lamborghini Miura foi outra estrela do Caramulo Motorfestival (estiveram na verdade duas unidades a circular no complexo), mostrando o porquê de ter sido considerado o primeiro supercarro da História do Automóvel; futuramente irei falar em detalhe da fascinante história deste modelo. Outras emoções vivi, mas aquela que estava mais reservada para mim (e para a minha esposa) foi a que resultou daquela experiência inolvidável com um “puro sangue” italiano especial, cujos deliciosos detalhes conto no próximo capítulo.

O INESQUECÍVEL CO-DRIVE NO ALFA ROMEO STELVIO QUADRIFÓGLIO COM A AUTO DRIVE
No dia de véspera do célebre “sábado do Caramulo”, dei conta através do Facebook de que a Auto Drive – conceituadíssima revista de automóveis 100% portuguesa da qual sou totalista e me tornei um orgulhoso assinante e seguidor das suas redes sociais – iria ter uma participação especial no evento com a atrativa missão desportiva de levar aficionados a subir rampa acima em regime de co-drive num exemplar do italianíssimo Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio, a versão mais desportiva do SUV com potência cifrada nuns mangânimes 510 cv, o mesmo nível de potência do sedan Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio (com o qual partilha a plataforma Giorgio) que a Auto Drive conduziu no Caramulo Motorfestival de 2019. Chegado o dia, conduzi do Porto até estacionar perto do centro nevrálgico da vila. Pouco tempo depois, passámos pelo “crivo” das verificações dos certificados digitais de vacinação e da atribuição das pulseiras vermelhas com o já inconfundível lettering CARAMULO MOTORFESTIVAL. O festival já tinha começado no dia anterior a meio gás, já que o grosso dos eventos previstos iria decorrer no sábado e no domingo. Estava, enfim, nas minhas sete quintas!
Minutos depois, ao percorrer o espaço em direção à Rampa Histórica Michelin, depois de ter passado por breves instantes pelo showroom da Aston Martin, encontrei o tão desejado carro de linhas genuinamente italianas que respeitam os pergaminhos ancestrais da Alfa Romeo. Sentado do lado do condutor estava o fundador e diretor da revista Auto Drive, o jornalista, test-driver e piloto de automóveis Pedro Silva. Já o conhecera de perto aquando da minha visita às instalações da Auto Drive sediadas no Edifício Start Up Sintra no célebre 1 de julho de 2019, onde tivemos uma conversa bem profícua e proveitosa, na qual abordámos variados temas; logo aí pude comprovar a sua paixão intrínseca e intensa pelo ramo automóvel, bem como os seus avançados conhecimentos técnicos nesta matéria, facto tão bem refletido nos diversos artigos escritos por ele ao longo de todas as edições da revista que dirige, ao qual se junta um inquestionável “toque de Midas” em matéria de composição literária, capaz de prender qualquer leitor apaixonado pelos detalhes automobilísticos. Ao lado dele estava Pedro Bastos, editor do canal de Youtube “O canal do Pedro Bastos” e um dos melhores youtubers do ramo automóvel. Fiquei muito feliz por reencontrar o Pedro Silva e conhecer pessoalmente o “Tio Bastos”, ainda que de relance. Nisto, o Pedro Silva sugeriu-me fazer a inscrição na secção da Tipografia para um co-drive com ele no bólide italiano; perante isto, não podia perder a oportunidade de andar a bordo de um “trevo de quatro folhas” tão especial e italianíssimo. Minutos depois, os dois Pedros partem para a primeira subida do Stelvio Quadrifoglio na Rampa Histórica Michelin naquele que seria o melhor sábado da minha vida até hoje. Entretanto, momentos depois, consegui o tão desejado “passaporte” para um dos mais felizes episódios da minha vida enquanto entusiasta automóvel.
Ao longo do dia vivi uma importante parte do meu sonho, apreciando os arranques fumarentos dos mais diversos modelos automóveis rumo à Rampa, mas também percorrendo outros espaços, como por exemplo a riquíssima Feira de Automobília, que combinou vários expositores de venda de miniatura de automóveis e artigos de merchandising, mas também de diversos tipos de peças para automóveis clássicos e até brinquedos antigos, entre outras peças alusivas ao tema dos veículos motorizados. Fiquei absolutamente maravilhado com o vasto patrimómio automóvel que coloriu e encheu de barulho a pacata vila, incluindo os veículos militares que estavam estacionados em frente ao Pavilhão Municipal do Caramulo e que, a certa altura, também saíram para o desfile na Rampa. A minha esposa e os meus sogros também disfrutaram do ambiente de festa que se viveu naquele dia de sábado, tendo conseguido ter momentos de descanso e tomar bebidas frescas no Bar Murganheira que foi montado numa zona florestal imediatamente à frente da reta de partida da Rampa, até para se protegerem do intenso calor que se fez sentir a partir de meio da manhã. À medida que as horas passavam, cada vez mais gentes e carros acorriam ao “santuário”. A certa altura, haviam já valentes milhares de pessoas a percorrer em vários sentidos a zona em volta do Museu do Caramulo que era dificil os carros poderem circular em direção à Rampa, mas felizmente a GNR e os marshalls fizeram um excelente trabalho de garantir a segurança de todos de modo a que tudo corresse pelo melhor e os carros pudessem, enfim, circular alternadamente e sem sobressaltos. Saliente-se que, em cada sessão de subidas de rampa, o carro “0” que iniciou cada uma delas foi o sedan Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio, com o mesmo tom de vermelho que o seu irmão Stelvio Quadrifoglio e o mesmo nível de potência.

Contudo, o grande momento tardava em chegar. Primeiro, porque antes de mim increveram-se mais pessoas; depois, porque as provas desportivas tinham sempre primazia sobre os co-drives, que não apenas eram feitos no Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio, mas também num Hyundai i30 N (conduzido pelo veterano piloto de automóveis e motas Francisco Sande e Castro), num Lexus LC500 Cabrio (equipado com motor V8 à americana), num exemplar do modelo elétrico Hyundai IONIQ 5 do projeto Race for Good, projeto de cariz humanitário da autoria e mentoria do carismático treinador de futebol e também piloto de automóveis André Villas-Boas, que se encarregou da pilotagem, não só deste modelo elétrico mas também de um dos dois Lamborghini Miura que estiveram presentes no festival. Não obstante, acabei por constatar, através dos responsáveis pela gestão dos co-drives e pela lista de nomes dos inscritos, que seria o décimo (salvo erro) a subir a Rampa com o Pedro Silva. Perante isto, tive a feliz ideia de levar a minha esposa, Liliana Ricardo, a fazer o co-drive comigo, pois sabia que ela iria adorar a experiência e não queria de todo ser apenas eu a gozar da experiência. Ela adorou a ideia, e sempre foi uma forma de podermos gozar da experiência juntos. Os organizadores aceitaram a ideia e inscreveram-na para gozar a experiência comigo. Dado que era obrigatório levar capacete, foi apenas questão de garantir um capacete extra para ela, e isso foi conseguido bem a tempo da chegada do Pedro Silva ao local com o seu bólide desportivo. Antes disso, houve ainda tempo para apreciarmos o espetáculo aéreo de avionetas ao abrigo do evento Prio Air Show.

Finalmente, por volta das 17:00h, chegou o momento por que tanto esperava, ainda que até à data nem sequer imaginasse ser possível. Depois de colocarmos os capacetes, entrámos no SUV (super)desportivo, que representa um ligeiro upgrade em relação à primeira fase do modelo e cujo exemplar é o mesmo que foi testado pelo Diogo Teixeira da Razão Automóvel e, claro, também foi testado pela Auto Drive.
Exteriormente, o carro tem um design moderno claramente inspirado nos modelos clássicos da marca. Sendo o Stelvio Quadrifoglio um SUV de alta performance, há pormenores que o distinguem do Stelvio normal, tais como as aplicações do símbolo do Quadrifoglio, os para-choques dianteiros com entradas de ar proeminentes, as “guelras” presentes no capô dianteiro, o sistema de escape de quatro ponteiras com o seu extrator específico que se integra na perfeição no para-choques traseiro, a aplicação em V em fibra de carbono no trilobo com acabamento em “Dark Miron”, as exclusivas jantes em liga leve de 20” com acabamento polido, as pinças de travão em vermelho (há mais três cores disponíveis para as pinças de travão) e, por fim, a utilização de materiais mais leves, tais como a fibra de carbono, que está presente até no veio de transmissão para as rodas traseiras. O interior é também marcadamente mais desportivo do que qualquer outra versão do Stelvio, sendo de nível semelhante do seu irmão Giulia Quadrifoglio, onde não faltam as aplicações premium em fibra de carbono, alumínio (a começar nos pedais), tecido em pele e tecido Alcantara com pespontos em vermelho nas várias áreas do interior: bancos, consola central, tablier, guarnições das portas, alavanca da mudança de velocidades e volante multifunções. Tratando-se da versão MY21, entre pequenas alterações de pormenor, o volante acrescentou na sua base uma deliciosa aplicação em fibra de carbono com o símbolo do Quadrifoglio; por outro lado, o sistema de infoentretenimento sofreu uma evolução muito importante no sentido de acrescentar novas funções e ser mais intuitivo. O painel de instrumentos mantém, contudo, as suas características analógicas com um pequeno mostrador digital entre os dois mostradores analógicos redondos. Claro está, não podiam faltar as patilhas de mudança de velocidade de aspeto metálico e bem polidas, que estão fixadas na coluna de direção e não no volante (uma opção que beneficia a condução desportiva). Fundamentalmente, a qualidade de construção e o design estão ao nível dos melhores desportivos alemães. Dinamicamente, este SUV consegue mesmo um apuradíssimo comportamento de “puro sangue” italiano que adora estradas reviradas e pistas, não só por causa do fabuloso motor oriundo da Ferrari 2.9 V6 biturbo que produz 510 cv às 6500 rpm, mas também graças a uma equitativa distribuição de peso (50:50), ao sistema de tração integral Q4 com Launch Control com veio de transmissão em fibra de carbono e ainda ao sistema de vetorização de binário que distribui o binário e a potência pela quatro rodas em tempo real. A aceleração de 0 a 100 km/h é despachada em 3,8 segundos, contribuindo para tal a fabulosa caixa automática de dupla embraiagem com 8 velocidades fornecida pela ZF. Não menos impressionante é o binário máximo de 600 Nm, valor disponível logo a partir das 2000 rpm. A velocidade máxima cifra-se nuns bem elevados 283 km/h. E tudo isto num SUV que mede 4687 m de comprimento, 2163 m de largura e 1693 m de altura. Quanto ao resto… já lá vamos!…






Quando eu e a Liliana nos sentámos no carro, ficámos absolutamente espantados com a qualidade dos materiais e o excelente apoio dos assentos, sem qualquer descuro pelo conforto a bordo. Admirámos um nível de solidez de construção que não está ao alcance de todos. Tudo está no devido lugar, muito bem encaixado e com uma lógica de design que transmite paixão a quem deseja andar a bordo do carro italiano. Começámos a respirar a desportividade genuína de um Quadrifoglio, que transporta a essência da história desportiva da marca de Arese que a certa época serviu de “cavalo de batalha” da Scuderia Ferrari quando esta deu os primeiros passos em provas de Grande Prémio. Também por isso a cor vermelha assenta tão bem em qualquer modelo fabricado pela casa de Arese, e a verdade é que última gama Quadrifoglio ressuscitou a aura que fez da Alfa Romeo vencedora do primeiro Grande Prémio Mundial em 1925 e os dois primeiros títulos mundiais de Fórmula 1 em 1950 e 1951, bem como de mais cinco títulos mundiais de automobilismo e centenas de títulos italianos e europeus. Por tudo isto, a minha experiência tinha tudo para ser memorável. Pela agradável surpresa, partilhada com a minha esposa, de poder subir, a bordo de um SUV demolidor e diabólico, a Rampa Histórica Michelin que tem sido palco de verdadeiras subidas memoráveis perante um entusiasmadíssimo público. E isso foi, para mim e para a Liliana, um verdadeiro privilégio, ainda mais tendo como condutor o super experiente Pedro Silva, a quem agradeço pela oportunidade de gozar a experiência, já o dia estava numa bela fase de sunset.
Pouco tempo depois, entra o Pedro Silva para assumir mais uma vez o papel de exímio piloto… e mais um convidado no assento de trás. Só me apercebi entretanto que este último a entrar no carro seria um dos fundadores, editores e jornalistas do arrojado projeto digital sobre automóveis chamado Garagem, João Isaac, um verdadeiro apaixonado por automóveis que se dedica de alma e coração ao projeto, com imensa inspiração ao ponto de publicar mensalmente uma revista em formato digital com fotos e tudo. Eu estava extasiado com tudo isto, e ao mesmo tempo ia captando imagens em vídeo, através do meu smartphone Samsung Galaxy A32, do momento que se ia tornando progressivamente mais épico. O Pedro Silva não mostrava sinais de grande cansaço, apesar do forte calor que se fazia sentir ainda pelas 17 horas e pico. A conversa ia correndo alegremente graças em parte ao bom sentido de humor do piloto – qual diabo que iria levar os pecadores para o seu inferno -, à medida que o carro ia deslizando aos poucos até ao ponto de partida da já mítica Rampa Histórica Michelin. Ainda tivemos tempo de apreciar arranques fulgazes de carros que partiam à nossa frente. O Sol tardava ainda a pairar no horizonte, mas entretanto iria chegar o momento da verdade, depois da partida de um levezinho Caterham Seven perante um ferveroso público. Entretanto, o diabólico SUV italiano já estava configurado no mais agressivo modo de condução “Race”, apenas indicado para ambientes de pista… como é o caso! Tenham medo, tenham muito medo!…

Três, dois, um… partida! Ainda que o Pedro Silva não tivesse utilizado a função de “Launch Control”, o arranque foi absolutamente vertiginoso. O binário máximo de 600 Nm fez-se sentir pelo facto de as costas terem ficado “coladas” ao assento. O melodioso som do motor V6 biturbo Ferrari é música para os ouvidos de quem vai a bordo. Ainda antes da primeira curva, já o Stelvio Quadrifoglio passara a barreira dos 100 km/h. Os pneus Pirelli PZero Corsa R chiam, mas mantêm-se bem pregados no asfalto sem qualquer desvio ou deslize, em grande parte graças ao sistema de tração integral Q4. Nem o mais ínfimo sinal de adornamento lateral da carroçaria, graças a um excelente chassis que permite uma ótima distribuição de peso e que o motor esteja o mais recuado possível no capô e numa posição baixa, atrás do eixo dianteiro, a que junta um sistema de suspensão de triângulos sobrepostos. Nunca tinha sentido tamanha força de aceleração nem antes tinha estado a bordo de um veículo tão potente. Não se trata de um Porsche 911 ou de um Porsche Panamera, ou mesmo um Porsche Taycan Turbo S. É um excelentemente bem concebido Alfa Romeo, num formato SUV, cujo powertrain encaixa que nem uma luva no conceito desportivo do carro cujo centro de gravidade é o mais baixo possível. Eu gritei, gritei… de êxtase e excitação, tal como se estivesse numa montanha russa de um parque de diversões (naquele momento lembrei-me da antiga Bracalândia). O prazer e o nível de adrenalina não deixavam espaço a hesitações, mas sim à pura diversão de me sentir como um verdadeiro piloto, ao sentir cada passagem de caixa e a rápida resposta do motor. A cada curva, o prazer de estar a bordo era cada vez maior, e eu não parava de gritar e de gracejar ao mesmo tempo. Euforia e medo andam lado a lado, mesmo quando estamos a ser conduzidos por um expert, porque tudo pode acontecer. Mas o que verdadeiramente acontece é algo mágico, que faz com que a experiência seja violentamente graciosa. Apesar de sermos quatro ocupantes, o Stelvio Quadrifoglio não mostra perdas de agilidade ou de velocidade nas retas e nas curvas de um percurso muito técnico – felizmente sem chicanes -, cuja penúltima curva à esquerda tem a forma de um gancho, precedida de uma dupla reta… e foi aí que, apesar do sistema de tração integral Q4 em plena ação, o SUV diabólico deu um recital de drift controlado antes de entrar na derradeira secção antes da meta. Tudo o que é bom acaba depressa, e esta experiência seguiu essa máxima. Foi tudo tão rápido e… tão intenso! Para petrolheads, isto é do melhor que podia acontecer, tanto que o sentimento geral foi de plena satisfação e divertimento. Pudera, num SUV com 510 cv de potência que envergonha qualquer Porsche do segmento, e que provou ter qualidade de construção, tecnologia de vanguarda e doses extremas de potência e binário e um nível apuradíssimo de condução desportiva, sobretudo no mais agressivo modo Race. Tratando-se de um autêntico Alfa Romeo, o Stelvio Quadrifoglio não dispensa os tradicionais modos de condução que compõem o seu DNA: Dynamic, Natural e Advanced Efficiency. E assim que o nosso Stelvio Quadrifoglio passou a linha da meta em direção ao Cabeço da Neve, o Pedro Silva num instante mudou do modo Race para o modo mais eficiente Advanced Efficiency.
Ao chegarmos ao Cabeço da Neve, lugar de onde costumam partir parapentes que tem uma pequena rotunda de inversão de marcha, estavam outros carros à nossa frente a aguardar o “compasso” para o regresso de volta ao complexo envolvente do Museu do Caramulo. Antes do regresso à “realidade”, tivemos direito a bebidas refrescantes e ainda fomos testemunhas de um emocionante pedido de casamento (momento que não partilho em vídeo para proteção da privacidade dos noivos).

Para os que ainda não têm a edição #45 da Auto Drive (outubro 2021), saibam que existe um artigo especial dedicado ao Caramulo Motorfestival escrito pelo Pedro Silva, com pormenores muito deliciosos sobre a aventura dele com o Alfa Romeo Quadrifoglio que, perante uma boa dose de solicitações, se transformou a partir de determinada altura num táxi-SUV desportivo. Caso alguém queira encomendar esta edição por correio, basta enviar um email para edicoes@auto-drive.pt, que será posteriormente contactado pelo Editor Geral, João Santos Matos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS E UMA HOMENAGEM
Em jeito de balanço, o Caramulo Motorfestival de 2021 foi uma parte importante de um sonho que se mantém vivo, que é conduzir automóveis em ambiente de pista, ou mesmo fazer corridas de automóveis. Não foi desta que conduzi um automóvel em plena Rampa Histórica Michelin. Mas pode ser que, em futuras edições, isso aconteça. De resto, adorei sentir a emoção de ver ao vivo um importante e vasto tesouro da História do Automóvel. Não há dúvidas: o Automóvel é o meu objeto de culto, sem o qual a minha vida não teria o mesmo colorido. Parabéns aos organizadores do Caramulo Motorfestival por colocarem de pé um evento eclético de veículos motorizados com história em grande estilo e com elevado nível de organização. Expresso profundamente um agradecimento especial à Auto Drive por proporcionar momentos de emoções fortes a bordo de um (super)desportivo tão especial em forma de um aguerrido SUV.
Curiosamente, e pelo que o Pedro Silva nos confidenciou mais tarde (se a memória não me falha), não era para ter vindo o Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio, mas sim… um Maserati MC20, o novo GT da marca do Tridente, sobre o qual já escrevi neste blogue! Seria fabuloso pelos seus 630 cv produzidos pelo motor Nettuno, sim, mas a desvantagem face ao Stelvio Quadrifoglio seria maior pelo facto de apenas poder transportar dois passageiros. Por isso, o Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio foi a escolha acertada para o lugar certo, comprovando que um SUV pode ser tão potente, ágil e veloz como alguns desportivos alemães.
Um sincero pedido de desculpas a todos os fãs do projeto SPUNIQCARS por não ter publicado durante meses um novo artigo. Era para tê-lo concluído bem antes, pouco tempo depois da realização do evento, mas devido a vários contratempos tal não foi possível. Em todo o caso, espero que tenham gostado do artigo. Deixo aqui o compromisso de publicar novos artigos (e vídeos) com mais frequência e com toda a qualidade que vós, estimados fãs, bem conhecem. Muito obrigado pela compreensão de todos. Prometo que o próximo artigo virá em breve.
Por último e não menos importante, e porque à data da publicação vivemos um momento conturbado na História da Humanidade que, a cada dia que passa, ganha contornos de uma nova Guerra Mundial pela ameaça que representa aos paízes europeus vizinhos (e não só), não posso deixar de repugnar as ações militares que a Federação Russa está a tomar contra a Ucrânia, comandadas por um tirano que, usando o jugo da ameaça nuclear, não mede a consequências dos seus atos, apenas pelo desejo de reerguer um império que, à luz do Direito Internacional, não tem mais razão de ser. Deixo aqui, pois, a minha homenagem a todo o povo ucraniano, bem como aos seus militares que têm feito todos os possíveis para defender o seu território até onde der e vier, mesmo em situação de inferioridade militar e perante a falta de coragem dos países da NATO em entrar no território ucraniano para os ajudar a expulsar a armada russa. Glória à Ucrânia!