SERES. Este termo pode, sem qualquer problema, ser pronunciado com o fonema português associado a uma conjugação verbal do verbo “ser” ou à forma plural do substantivo comum “ser”. Mas não é disso que se trata. SERES é uma jovem marca start up que começou a dar luta a players do mercado mundial de EV’s – principalmente a poderosa TESLA – com modelos premium de segmentos médio e alto, dotados da mais alta tecnologia aplicada à propulsão elétrica e de melhor relação qualidade-preço, e é parte integrante do poderoso grupo chinês DFSK MOTOR. A nova firma foi fundada originalmente como SF Motors em janeiro de 2016, assentando a sua sede em Silicon Valley, mais propriamente na área da cidade de Santa Clara, no estado Califórnia dos EUA.
ORIGENS E DESENVOLVIMENTO
Certamente que muitos de vós não sabeis, mas o grupo DFSK MOTOR (a sigla DFSK provém do nome da aliança entre as chinesas DongFeng e a SOKON), para além de fabricar uma vasta gama de modelos com marca própria para o mercado chinês e outros países asiáticos, tem participação maioritária no grupo francês PSA (que agrega as marcas Peugeot e Citroën) e ainda fabrica modelos das marcas Peugeot, Renault, KIA, Honda e Nissan, exclusivamente para o mercado chinês. Desde 2005, tem vindo a exportar modelos para mais de 60 países e regiões (Europa incluída) um pouco por todo o mundo. Conta ainda com fornecedores importantes tais como Bosch, FIAT e Delphi.
Foi com a ajuda de norte-americanos a que a subsidiária SF Motors começou, primeiro, por desenvolver tecnologias de condução autónoma avançada juntamente com a Universidade de Michingan (EUA). Mais tarde, já em 2017, recebeu permissão para produzir carros elétricos na China, abriu os seus escritórios em Silicon Valley (EUA), estabeleceu um centro de pesquisa e desenvolvimento de condução inteligente em Pequim (China), adquiriu a fábrica da AM General de Mishawaka (Indiana, EUA) para a construção dos futuros modelos e ainda recebeu autorização da entidade californiana DMV para testar a tecnologia de condução autónoma. No mesmo ano, adquire a start up InEVit, criada e liderada pelo co-fundador e antigo CEO da TESLA, Martin Eberhard, que assegurou os cargos de Chief Innovation Officer e Vice Chairman do conselho de administração do aquisitor até julho de 2019.
O ano de 2018 seria decisivamente revelador das verdadeiras potencialidades do “dragão elétrico” chinês, cuja ideia foi de John Zhang, fundador e atual CEO da firma. Como podeis comprovar através do seguinte vídeo de apresentação da firma, as fontes da inspiração que esteve na origem da firma foram a aceleração imediata, a simplicidade dos comandos e a conexão entre o carro e o condutor, características que John experimentou no primeiro carro elétrico que conduziu, por sinal de gama desportiva (sem revelar que marca), o que lhe fez sonhar em concretizar um projeto ambicioso como este, aproventando a sua experiência em matéria de indústria automóvel que teve anteriormente. Na cerimónia de apresentação foram revelados protótipos dos futuros SUV que serão construídos de raíz, SF5 e SF7 (entretanto renomeados SERES 5 e SERES 7).
A grande missão da marca? “Transformar a mobilidade humana (e, quem sabe, o planeta Terra) através de carros elétricos.”. Para tal, a SF Motors estabelecia, como valores diferenciadores, o seu próprio modelo de negócio global, a tecnologia integralmente inovadora e a conceção de produtos direcionados para o bem estar integral do ser humano. Como análise, digo que este conjunto de valores não é algo banal e que visa apenas seguir modas instituídas na sociedade, mas antes um ponto de partida para uma nova era da mobilidade terrestre, e ao mesmo tempo um desmontar de preconceitos, não só em relação aos carros elétricos mas também ao talento dos chineses em conceber e construir de raíz carros emotivos sob o ponto de vista de design e performance, práticos e tecnológicos. Creio mesmo que estamos perante uma democratização de tecnologia made in China, pronta para um sucesso global sem precedentes assente na alta tecnologia qualitativa, algo que ainda não tinha acontecido na história da indústria automóvel.
Continuando…
2018 foi também um ano decisivo para a sedimentação do seu modelo de negócio e para a testagem de tecnologias desenvolvidas in house. Em Milpitas, Califórnia, foi instalado o departamento de pesquisa e desenvolvimento de sistemas de propulsão elétrica; na capital japonesa Tokyo foi estabelecido o centro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de armazenamento de energia elétrica em baterias de alta densidade; na Nova Zelândia foram testados protótipos em condições adversas de frio e neve; foi registada a primeira patente exclusiva da SF Motors relativa ao parqueamento 100% autómono; na fábrica da DFSK em Chongqing (China), onde serão produzidos os futuros modelos da marca, foram produzidas várias unidades experimentais; finalmente, a SF Motors recebeu a licença californiana de construtor automóvel para a produção de automóveis destinada ao mercado norte-americano.
Em 2019 foi realizado um importante teste dinâmico de longa distância em várias regiões da China (incluíndo Tibete). No mesmo ano, a designação “SF Motors” desaparece dando lugar à marca SERES (cujo termo é ancestral e de grande significado para o povo chinês), e é lançado o modelo SERES 5, que tem duas versões de motorização, uma 100% elétrica (EV) e outra híbrida (EVR). Uma vez estabelecidas as chamadas facilities de fabricação e os indispensáveis departamentos de R&D nos dois lados do Pacífico (China, EUA e Japão), estavam criadas as condições para a produção em massa dos futuros modelos.

Entretanto, na Alemanha já se encontra à venda o atual SERES 3 (que na China é vendido como Dongfeng Fengon E3 EV), SUV que possui um motor elétrico dianteiro que transmite 120 kW (163 cv) ao eixo dianteiro e uma bateria de lítio ferroso (LiFePO4) de 52,56 kWh que permite um alcance de 350 km (ciclo WLTP), apresentando uma aceleração de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos e uma velocidade máxima limitada a 155 km/h. Por esta altura (janeiro de 2021) este modelo deverá estar já presente na Holanda e na nossa vizinha Espanha. Em termos de dimensões (4,38 metros de comprimento), enquadra-se no segmento médio, permitindo lutar contra modelos como o Hyundai Kawai Electric e o KIA e-Niro, sendo comercializado com preços que não chegam a atingir os 40 mil euros (sem incentivos). A avaliar pelas imagens, a qualidade e a funcionalidade deste produto conseguem ser tão apelativas como a de outras marcas bem conhecidas na Europa, chegando mesmo envergonhar os mais céticos. Ainda acham que os chineses não sabem construir automóveis robustos?
Sobre o SERES 5 e o SERES 7, falo sobre ambos nas próximas linhas. Modelos cuja tecnologia será bem mais evoluída do que a instalada no SERES 3…
TECNOLOGIA, DESIGN E PERFORMANCE DOS NOVOS MODELOS
O princípio em que se baseia a tecnologia empregue pela SERES é a aliança entre a tecnologia e a inteligência artificial, garantindo desde já o máximo prazer possível de condução. A componente elétrica envolve motores, caixa de velocidades, células e packs de bateria e comandos, ao passo que a inteligência artificial incorpora sistemas de condução autónoma e de conectividade com o utilizador e o Human Machine Interface (HMI). Todo este conjunto de mecanismos, que se resume no chamado E-powertrain, foi desenvolvido pela SERES nos vários departamentos de R&D.

Começando pela motorização elétrica, foram desenvolvidos de modo independente sistemas de 2, 3 e 4 motores com eixos traseiros independentes, que permitem uma vectorização de binário ultra-responsiva a fim de otimizar o desempenho e a estabilidade. Cada dual motor (unidade motriz com dois motores unidos um ao outro) faz girar uma roda e foi desenvolvido para girar até 16 mil rpm e produzir uma gama de potências entre 100 kW (136 cv) e 400 kW (544 cv). Dependendo da combinação de motores e potências, o pico de performance pretendido, com a adoção de 4 motores (considerando a instalação de uma unidade motriz dupla em cada eixo), é de 800 kW (1087 cv), permitindo acelerações de 0 a 100 km/h em menos de 3 segundos. Em cada unidade motriz, de dimensões compactas e design único, existe um MCU (unidade de controlo de motor). Os dois MCU’s atuam interligados e, conjugando a performance nos dois eixos e a direção que o veículo toma, é disponibilizada a quantidade de binário certa para cada roda para que não haja qualquer perda de eficácia aquando dos movimentos laterais (a tal vectorização de binário), garantindo uma otimização da tração integral às quatro rodas sem haver necessidade de diferenciais mecânicos e, consequentemente, um melhor controlo do veículo por parte do condutor. Acoplado à motorização existe um gerador de 90 kW que complementa a bateria de alta densidade e garante uma extensão de automonia, a exemplo do que a BMW utiliza no seu modelo i3.

A bateria tem dimensões compactas e espessura reduzida, com material de revestimento e de estanque reforçados e um mecanismo avançado de refrigeração, assentando na perfeição no centro de gravidade do chassis (de construção integral em alumínio e com design altamente otimizado), mesmo por debaixo da zona do habitáculo. No interior dela e espalhadas por várias secções estão contidas 21.700 minúsculas células cilíndricas de lítio ferroso (as primeiras do mundo em estado sólido) que atuam como eletrólitos que conferem, cada uma, uma densidade energética 280 Wh/kg – é esta característica que confere à bateria a sua alta densidade energética – que lhe garantem uma capacidade de 100 kWh e cerca de 500 km de alcance estimado (segundo o ciclo NEDC). Na secção mais elevada da bateria encontra o sistema BMS (sistema de gestão da bateria), que atua como “mentor” de outros sistemas alojados junto da bateria tais como o VCU (unidade de controlo do veículo), o já referido MCU (unidade de controlo de motor) que comanda os quatro inversores de motor que atuam na rotação das respetivas rodas, a PDU (unidade dupla de distribuição de potência), o gateway (que fornece dados de outro veículos para uma constante prevenção de acidentes) e o ESP (programa de controlo de estabilidade). O nível avançado de construção da bateria confere aos seus veículos elevados níveis de segurança, fiabilidade e performance, para além de permitir carregamentos de energia significativamente mais rápidos.
A estrutura do chassis não podia dispensar, claro está, as barreiras de colisão, um sistema de suspensão independente multilink nas quatro rodas, um sistema de amortecimento contínuo nas quatro rodas, um sistema avançado de direção nos dois eixos, travões de disco altamente eficientes e rodas com desenho otimizado para o melhor comportamento global em estrada, onde praticamente não se notam adornos de carroçaria. Tudo isto para uma condução emocionante, consciente e deslumbrante.
O sistema global de inteligência artificial, também ele desenvolvido pela SERES – à exceção do sistema HMI que teve a preciosa colaboração da gigante chinesa Alibaba – incorpora a mais avançada tecnologia de hardware e software aplicada à proteção dos passageiros e dos peões, mas também a que diz respeito ao entretenimento. Aquilo a que a marca chama de “plataforma de Autonomia Protetora” baseia-se num sensor global de última geração que funciona com scanners, radares, câmaras de alta definição e ultrasons, providenciando uma visão de 360º consciente e redundante que visa melhorar os níveis de segurança, conveniência e paz de espírito. Este mecanismo complexo faz funcionar os seguintes sistemas: o Lane Centering, que mantém o veículo no centro da faixa de rodagem e faz mover gentilmente o volante em caso de desvio inesperado do veículo; o Intelligent Cruise Control, que mantem uma distância segura entre o veículo e os veículos que seguem à frente, adaptando a sua velocidade à velocidade do tráfego à sua frente; o Automatic Lane Change, que muda automaticamente o veículo de uma faixa para outra a fim de manter uma circulação eficiente em estrada no meio do para-arranca característico do condicionamento de tráfego; o Freeway Exit Assistance, que auxilia o condutor nas rampas de saída de modo seguro e fiável; o Traffic Light Awareness, que reconhece semáforos e automaticamente trava completamente o carro em caso de perigo iminente de choque contra peões; o Collision Avoidance, que deteta e identifica obstáculos de estrada inesperados e ajuda a evitar possíveis colisões; por fim, o Intelligent Parking, que identifica conveniente lugares de estacionamento vazios e estaciona com precisão sem qualquer intervenção do condutor.
Seguramente, e graças à estreita colaboração da SERES com o gigante tecnológico chinês Alibaba, o sistema HMI é seguramente dos mais atraentes, inteligentes, funcionais e abrangentes do mundo, tornando-se um instrumento fundamental, não só de entretenimento (vídeo, música, internet e conectividade com telemóveis), mas sobretudo de comando de todos os sistemas de segurança e performance, estabelecendo uma perfeita simbiose entre condutor e carro. Para além do facto de muitas funções serem comandadas através de botões multifunções que estão integrados no volante, algumas funções podem ser executadas através da aplicação própria que foi desenvolvidas para smartphones. O painel de instrumentos do condutor, 100% digital e de elevado grau de definição, está desenhado para se enquadrar perfeitamente na abertura superior do volante, para uma fácil leitura de dados. O ecrã de infoentretenimento é de generosas dimensões (12 polegadas), colocado de forma vertical por debaixo da zona central do tablier. Todo o desenho do tablier, do volante, dos espelhos e dos comandos foi elaborado no sentido de uma utilização super intuitiva de todas as funções disponíveis, seja do condutor, seja ainda do passageiro do lado. Nos dias de hoje, e face ao elevado stress que a sociedade atravessa sobretudo nas grandes cidades, este aspeto é fundamental e é o que, juntamente com o aspeto de eficiência, ecologia, performance e design, pode determinar a compra ou aluguer de um automóvel. Ah, convém não esquecer também a boa relação qualidade-preço, pois claro!
Não menos importante, o que mais salta aos nossos olhos: o design. Nada foi descurado, seja no exterior, seja no interior. Convém não esquecer que o mercado dos SUV é atualmente o mais lucrativo pela grande fatia de vendas que representa. Por isso é que SERES apostou logo de início neste tipo de forma (na variante crossover), até pela desportividade inata que transporta. Ainda que a inspiração provenha da escola europeia, os traços são tremendamente emotivos, começando pelos feixes de luz em LED que abraçam a frente do veículo e acabando no feixe proeminente das luzes traseiras. Não falta sequer solidez nem brilho. Nem tão pouco funcionalidade. No interior está francamente ao nível dos melhores construtores do mundo, apresentando elevados níveis de simplicidade, qualidade e robustez, mesmo ao nível de revestimento dos materiais, do design dos bancos e do conforto.
Mas, uma coisa é ver um modelo sob forma de protótipo, cujo design muitas vezes não corresponde de todo com o modelo final; outra coisa é ver modelos na sua versão final. Pois bem, vejam com atenção o seguinte vídeo acerca da versão final do SERES 5, bem como as fotos seguintes, e tirem as vossas conclusões. Eu adorei!
O SERES 5, cuja versão final foi revelada em 2019, começou a ser fabricado na China no segundo trimeste de 2019 e encontra-se em plena comercialização nesse país. Situa-se no segmento de SUV médio-alto e mede quase 4,7 metros de comprimento, exatamente no meio termo entre o SERES 3 e o SERES 7. A versão puramente elétrica EV – uma séria concorrente do Jaguar I-Pace e do Tesla Y – que é talvez a única que terá viabilidade numa Europa cada vez mais ecológica, contém duas unidades motrizes que juntas debitam uns impressionantes 510 kW (694 cv) de potência e um estonteante binário instantâneo de 1.040 Nm, acelerando de 0 a 100 km/h em apenas 3,5 segundos e atingindo uma velocidade máxima limitada eletronicamente a 250 km/h. Existe também a versão híbrida EVR, mas essa é menos interessante sobre o ponto de vista ecológico e não acrescenta performance superior. Na China, os preços deste modelo começam nos 42.800 euros. Não sendo propriamente barato, será que pela excelente relação qualidade-preço não valerá a pena já encomendar um? Isto a exemplo do que acontece com os já populares Polestar, marca estupidamente vetada em França devido a uma inqualificável estupidez (só por causa do símbolo!!!).
Quanto ao promissor SERES 7 que, incompreensivelmente ainda se encontra na fase de protótipo, e segundo os poucos dados disponíveis, sabe-se que será vendido exclusivamente como EV e que terá uma potência a rondar os 1000 cv, acelerando de 0 a 100 km/h em menos de 3 segundos. O seu alcance previsto é de 482 km (pode ser superior). Posicionar-se-á em pleno segmento alto, apresentando claramente um design mais encorpado do que o SERES 5, sendo também o mais comprido. Este estará no topo de gama, cuja venda no mercado global certamente dependerá do sucesso de vendas do modelo de segmento inferior.
CONCLUSÃO
Será que algum dia esta marca chegará a Portugal? Ninguém sabe ao certo, mas sempre podemos esperar para ver. Em todo o caso, importante é constatar de que o know how está perfeitamente impregnado na marca e a qualidade de construção não deixa nada ao acaso, ao contrário do que anteriormente aconteceu com outras marcas chinesas que até copiaram (e ainda o fazem) o design de carros europeus bem conhecidos. Contudo, este não é o único caso do excelente empreendormismo chinês em matéria de automóveis, pelo que em próximos artigos irei abordar mais uma marca chinesa (esta certamente bem conhecida por muitos). Em questões de desportividade associada à ecologia e à alta tecnologia, a SERES não fica nada atrás de várias marcas europeias e americanas. Também por isso merece um lugar de honra no blogue SPUNIQCARS!
Toda a informação oficial sobre a marca pode ser encontrada nos seguintes sítios de internet corporativos:
GLOBAL – https://www.driveseres.com/
CHINA – https://www.seres.cn/
PAÍSES BAIXOS – https://www.driveseres.nl/